Chico, o mensageiro

O extraordinário Art Blakey é, para muitos apreciadores do jazz, o melhor baterista do gênero. Eu prefiro Louis Hayes e Max Roach, mas não é isso que interessa. Um dos grandes feitos de Mr. Blakey foi ter levado o jazz a quem não o conhecia – ou, ao menos, a quem não tinha informações suficientes sobre o que era aquela música. Criou os Jazz Messengers em 1955, com o auxílio luxuoso do não menos extraordinário Horace Silver, pianista de primeira.

Mas não é sobre o jazz que quero falar – e sim sobre o mensageiro. Ou seja, aquele que leva a informação e a dissemina. Vou explicar direito. Em 2024, ano corrente, Chico Buarque de Holanda completou 80 anos. Homenagens em redes sociais, tevês, jornais impressos ou não. Depoimentos de amigos, de críticos, de produtores musicais e de irmãos de armas. Por falar em irmãos, a família manifestou-se: como não admirar seu mais ilustre membro? É minha vez de agradecer. E falo com tranquilidade: obrigado, mensageiro! Vou explicar direito mais uma vez.

Em dezembro de 1978 eu era um rapaz de 16 anos que ouvia rock (obrigações adolescentes), disco music (influência da época) e as big bands norte-americanas, das quais meu pai era fã. Nesse mesmo dezembro, Chico Buarque – de quem eu apenas ouvira falar – lançou o disco Chico Buarque, o famoso disco da samambaia, em cujos sulcos brilhavam Cálice, Até o Fim, Trocando em Miúdos, Tanto Mar, a tristíssima Pedaço de Mim, a censurada Apesar de Você e outras. No outro ano, em seus primórdios – últimos dias de janeiro -, coloquei o disco na vitrola e a epifania veio à tona. Sim, foi um momento epifânico, revelador. A ponto de eu ignorar, quatro anos depois, a música de minha geração, o BRock.

Mantive-me na MPB, ao contrário da maioria dos amigos, que foram na onda de Paralamas, Titãs, Plebe Rude, Legião Urbana, Camisa de Vênus e mais algumas tantas. Para mim, uma estrofe de Chico valia mais do que tudo o que Renato Russo e Herbert Vianna escreveram. Ainda vale. E o mensageiro? Bem, Chico me levou a Caetano, a Gil e a Vinícius, de imediato. Depois, a Edu Lobo, a Toquinho, a Francis Hime, ao MPB4 e aos sambistas da velha guarda. Merece medalha, merece homenagem, merece agradecimento. Sem Chico Buarque, eu estaria ouvindo o quê? Dinho Ouro Preto? Humberto Gessinger? Valeu, Xará, pelo livramento!

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Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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