O melhor do jazz #13: contrabaixistas

Quem é o melhor contrabaixista do jazz? Não faço a mínima ideia. Posso, claro, enumerar os meus preferidos, aqueles que, nesses 45 anos ouvindo jazz, mais me agradaram aos ouvidos. Creio que Charles Mingus seja uma unanimidade, um ícone jazzístico que superou a restritiva condição de contrabaixista. Além de band leader, foi um grande orquestrador, um arranjador de primeiríssima e um ótimo pianista. Penso que é o primeiro da lista, com justiça. E o disco em questão, Pithecantropus Erectus, de onde saiu a faixa homônima, se não é sua obra-prima, chega perto.

Ray Brown aparentemente tocou com todos os grandes nomes do jazz. Ao menos com quem importa: Duke Ellington, Dizzy Gillespie, Charlie Parker, Bud Powell e Oscar Peterson. Dono e senhor de um estilo plural, foi um sideman de luxo, e um solista absolutamente perfeito. Gosto de todos os discos de que participou – todos os que conheço, evidentemente. Há um, em especial, Black Orpheus – que é, de fato, Manhã de Carnaval, de Luis Bonfá -, cuja faixa-título pode ser ouvida e vista abaixo. Na bateria, George Fludas, o grande baterista de Chicago.

Miles Davis responde como líder de dois enormíssimos quintetos do jazz. O primeiro traz como contrabaixista o gigante Paul Chambers; o segundo apresenta um dos maiores do jazz: Ron Carter. Fã de música brasileira, tocou com Antônio Carlos Jobim, Luiz Bonfá, Robertinho Silva e Hermeto Paschoal, sem contar que lançou um discaço chamado Orfeu. No quinteto de Miles, mostrava a que vinha: dono de um senso de ritmo de de suingue inigualáveis no jazz, Mr. Carter fazia na cozinha o que fazia na sala de jantar – ou seja, como líder. É um dos maiores. Abaixo, com seu quarteto, no Festival Internacional de Jazz de San Javier, na Espanha. Ouça tudo; em particular de 2:45 a 4:15.

Imagine um contrabaixista que foi considerado como o melhor de todos por músicos como Paul Quinichette, Sonny Stitt e Lee Morgan. Imagine um músico que não se intimidou ao tocar junto a Miles Davis, John Coltrane e Bill Evans, no quinteto que trouxe ao mundo Kind of Blue. Pois esse sujeito existe e se chama Paul Chambers, a quem se deveu uma revolução no instrumento, com um senso de ritmo até então nunca visto. Assim como Jimmy Blanton, seu ídolo e contrabaixista de Duke Ellington, Paul Chambers passou a não depender mais do baterista para atuar. Fez história. Abaixo, um solo em On Green Dolphin Street, acompanhando (e usando o arco) o pianista Wynton Kelly.

Da primeira vez que ouvi The Shape of Jazz to come, do saxofonista Ornette Coleman, fiquei impressionado com o contrabaixista, Charlie Haden. Sem um piano que criasse a “liga” para os outros músicos, ficou por conta das cordas fazerem seu trabalho. Haden é um craque. Seu trabalho ao lado de Art Pepper é igualmente excelente, e mais maduro, mais profissional. E, com Jan Garbarek, no sax, e o brasileiro Egberto Gismonti, ao piano e ao violão, criou uma das grandes performances em Montreal. Acompanhe, abaixo, a partir de 6:29. Aliás, veja tudo.

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Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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