Augusto Frederico Schmidt é poeta moderno, morto há 60 anos, num dia 9 de fevereiro. Nasceu na época errada, porque, enquanto modernista, participou do mesmo grupo em que Carlos Drummond, Cecília Meireles e Vinícius de Moraes reinaram quase absolutos. Só não foram absolutos porque Jorge de Lima e Murilo Mendes estavam lá, para incomodar. Pois é: como sobressair – ou sequer ser notado – quando seus pares são quem são? Sem contar que a poesia dessa época ainda sofria com a ascensão da chamada Prosa de 30, com Jorge Amado, Graciliano Ramos e Érico Verissimo fazendo grande literatura.
Augusto, entretanto, sobreviveu. Fez a poesia melancólica do Modernismo, próxima de Drummond, mas ainda mais intensa. Fez a poesia de quem via o amor como falta, tendo a saudade como consequência, e o sexo como ausência. Tinha muito de Romantismo e Simbolismo, mesmo modernista. Mário de Andrade criticava-o, porque não via modernidades em sua poesia, como se o elemento moderno fosse a base estética para a grande poesia da época. Augusto Frederico Schmidt, aos olhos de muitos modernistas, nasceu velho. Talentoso, mas serôdio.
Li há poucas semanas alguns poemas de Mar Desconhecido, seu livro publicado no início dos anos 1940. É poesia confessional, um tanto adolescente, que não agrada a ouvidos e olhos de quem desemboca – como eu – num João Cabral ou, mais tarde, num Roberto Piva. Os versos livres se misturam à métrica; os versos brancos estão lado a lado com rimas bem postas, intencionais – é claro! É um sonetista de primeira linha, herdeiro de Guilherme de Almeida e, antes, de Alphonsus de Guimarães. Descambou para a poesia cristã, assim como fizeram os já citados Murilo Mendes e Jorge de Lima, mas aí perdeu a mão. Fez uma poesia careta e sem brilho.
Há certo erotismo, um tanto contido – talvez pela expressividade cristã de seus poemas. Mesmo assim, a figura feminina é desejo e é morte, elementos teoricamente díspares, mas nem tanto, porque os psicanalistas fazem dessa dicotomia uma festa. Augusto Frederico Schmidt tem seu valor, e tal valor seria mais celebrado se tivesse feito poesia 40 anos antes, quando Cruz e Sousa conflitava com Bilac et caterva. Teria sido um bom companheiro para uma poesia que, no mundo, foi poderosa, e no Brasil teve vida curta. No fundo, Augusto era um simbolista no corpo de um moderno. Ainda assim, os compêndios literários mencionam-no com a devida e merecida frequência. Eis uma palinha de Elegia:
Tua beleza incendiará os navios no mar. / Tua beleza incendiará as florestas.
Tua beleza tem um gosto de morte. / Tua beleza tem uma tristeza de aurora.
Tua beleza é uma beleza de escrava. / Nasceste para as grandes horas de glória,
E o teu corpo nos levará ao desespero (…)