Aretino, Linda & o sexo

A literatura erótica – e sua irmã mais ousada, a pornográfica não é, sob qualquer hipótese, uma literatura menor. Quem aprecia as boas histórias, e também os bons poemas e dramas, sabe disso. Quem não aprecia também sabe e por isso mesmo se opõe ao tema. Sexo é fundamento. Sem ele, meus seis ou sete leitores não existiriam, não poderiam discordar do que será lido nesta postagem. A propósito, sem o sexo eu também não existiria, de modo que o texto que se lê relaciona-se ao tema de forma quase hereditária.  Além de outras formas de se relacionar com ele, sexo também é bom de se ler.

Tenho lido sobre o assunto: penso em escrever um texto pornográfico — daqueles para valer, sem constrangimentos. A pornografia é o sexo sem vergonha de si mesmo, é a desnecessidade de afeto, que despreza jantares, presentes, alianças, futuro, jogos de poder. No meu livro de contos Todas Elas, Agora, de 2013, cheguei a ensaiar o tema, mas não produzi nada que não pudesse ser lido por um seminarista, embora eles possam negar isso e me enviar à eternidade infernal. Literatura pornográfica — ou sua irmã aristocrática, a erótica — é a libertação de grilhões tanto linguísticos quanto de enredo. 

Por que falo do assunto? Porque anteontem, 20 de abril, foi aniversário de Pietro Aretino, poeta pornográfico italiano que enriqueceu trocando sacanagem por diamantes. Sim, isso mesmo. Às senhoras nobres e assanhadas da Veneza e da Roma do século XVI enviava poemas licenciosos e, em troca, enchia os bolsos de preciosidades. Protégée dos Médicis e do Papa Leone X , era inatacável, de modo que se divertia sem que qualquer autoridade lhe perturbasse os modos. Ficou milionário comercializando luxúria. Seus sonetos luxuriosos são uma beleza de se ler.

Escrevo também porque hoje, 22 de abril, faz 23 anos que Linda Lovelace deixou este mundo, após um acidente automobilístico. A lendária atriz protagonizou quem se lembra? Deep Throat, ou Garganta Profunda, possivelmente o filme pornográfico mais icônico da história do cinema. Soube-se, alguns anos depois, que fora forçada pelo marido perverso, muitas vezes sob ameaça de tortura física, a participar dos filmes. Sofreu um bocado. Convertida à religião, algum tempo depois, tornou-se ativista antipornografia. Ei-la, abaixo:

Há um filme sobre sua vida, intitulado Lovelace, de 2013. Amanda Seyfried faz o papel principal, e o marido cruel e canalha fica por conta do sempre excelente Peter Sarsgaard. Vale checar, se houver interesse.

About the author

Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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