Ave, Luiz Guilherme!

Luiz Guilherme Santos Neves não está mais entre nós. Ou continua conosco, sim, na memória – que é lugar de eternidade e devoção. Foi amigo de meu pai; depois, meu. Aprendi – ou penso que aprendi – a escrever lendo seus livros, tentando imitar a elegância que empunha às palavras, às frases, aos parágrafos. O ritmo, então, era algo natural e inimitável: tanto na fala quanto na escrita. Historiador de primeiríssima, criou histórias fundamentadas na História, com agá maiúsculo, misturando a ficção com aquilo que se pretendia verdadeiro e real. Fundiu os dois e deu nó em nossas cabeças de leitor.

Tive o privilégio não somente de ler seus livros, mas de estudá-los a fundo, lê-los e relê-los com o prazer de, na leitura seguinte, perceber o ineditismo que me fugira, anteriormente. O vestibular da UFES proporcionou-me esse trabalho. Li e reli A Nau Decapitada, As Chamas na Missa e O Capitão do Fim, três obras-primas – sendo esta última minha preferida. Coisa de gênio iluminado, que iluminava com as palavras. Trazer luz a quem lê é prerrogativa de poucos. Luiz era um deles. Li suas crônicas na extinta Revista Você, editada por seu irmão Reinaldo. Mantive-as sob mira quando foram destacadas para o site Tertúlia, de Pedro Nunes. AQUI, o conteúdo de A Certos Respeitos, sua coluna.

Aliás, acima estamos: Luiz, o citado (e também escritor) Pedro Nunes e eu, participando do extinto Café Literário, do Sesc. Bons tempos, 2007, Pedro Nunes mediando um debate sobre narrativas. Quando lancei Histórias Curtas para Mariana M, em 2009, pedi que Luiz Guilherme Santos Neves o lesse. Com a generosidade de sempre, não somente leu como me ligou, dois dias após ter iniciado a leitura, com uma enxurrada de elogios os quais eu deveria ter gravado, para mostrar a todos. Escreveu a orelha do livro que, numa segunda edição – recente, 2023 -, foi mantida. Fico imaginando: e se Luiz não tivesse apreciado a história, do romance? Não sei se eu publicaria. Palavra de honra.

Em 2019, assim que veio a lume meu romance Fama Volat, fui até sua casa. Lá, conversamos sobre livros policiais, sobre literatura em geral e, claro, sobre projetos literários que sempre estavam em seu radar. A cidade de Vitória e o estado do ES eram sua mira, seu grande amor histórico, a base para sua escritura. Luiz partiu mas não partiu. Seus livros estão aí, para quem quiser ler e aprender. Claro que ter podido privar com ele, ouvir o que dizia, testemunhar seu humor e suas opiniões foi muito melhor. Não esqueço. Abaixo, em nosso encontro, com sua esposa e minha ex-professora de Literatura Portuguesa Therezinha Santos Neves. Uma figura notável também.

Obrigado por tudo, meu amigo. Sei que agradeço por muitos. Ave, Luiz!

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Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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