Molino & o desespero

Esta postagem é dirigida, principalmente, a quem não conhece Walter Molino. Para mim, um dos maiores ilustradores de todos os tempos, um gênio absoluto do risco, um maestro do movimento. Italiano, produziu boa parte de sua extraordinária obra para o semanário La Domenica del Corriere, o qual, aliás, por conta de seu talento, foi salvo da falência. Conheci o trabalho de Molino há dois anos, quando um amigo, muitíssimo interessado em desenhos e pintura, apresentou-me algumas ilustrações dessa fera. Não, não são tão fáceis de encarar, até porque o desespero, a dor e o desassossego são a fonte primeira de seu trabalho. É só conferir:

A percepção de sua temática é imediata. A bem da verdade, é justamente isso que admiro em seu trabalho: direcionada a quem observa, a ilustração é tão direta quanto possível, impactante na medida extrema, como se o observador desejasse, alucinadamente, saber o que acontece no instante imediatamente seguinte.

Quando vi pela primeira vez, o paradoxo se instaurou: desagradou-me o assunto enquanto admirei profundamente a forma. Aos poucos, acostumei-me ao propósito de Walter Molino: expressar o quotidiano que não imaginamos possível, mas que, de fato, mostra-se diante de nossos olhos, mesmo que não tenhamos testemunhado nenhuma das ações por ele concebidas – mas sabemos que são quase rotineiras.

Walter Molino começou a trabalhar profissionalmente em 1935. Desenhou para revistas infantis e para jornais, mas não se sentia, verdadeiramente, à vontade nesses veículos. Seu traço mordaz precisava de um espaço mais adulto – e foi aí que apareceu o La Domenica del Corriere, do qual se tornou o ilustrador titular e conquistou os leitores que, com frequência, enviavam-lhe cartas questionando a origem das imagens que ele expunha. Que histórias pessoais estavam por trás de tanto desespero e tanta urgência? Molino morreu aos 82 anos, sem responder. E nem havia necessidade disso.

Se houver interesse em saber mais, é só clicar AQUI. Eis o homem, abaixo:

About the author

Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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