O Leblon de João Ubaldo

Alguém disse, e muita gente aplaudiu, que literatura que faz rir é inferior à literatura séria, que nos emociona e nos faz pensar na vida. Ambas podem divertir, mas a garantia disso está naquela cujo objetivo é nos levar às gargalhadas – ou, no mínimo, ao riso contido, à anedota inesquecível. Eu, de minha parte, não recuso caminhadas por nenhuma das duas vias. Leio Rabelais, Chaucer e L. F. Verissimo com o mesmo prazer que leio Graciliano, Faulkner e Carpentier. Por que falo sobre isso? Porque acabei de ler o excepcionalmente engraçado Noites Lebloninas, de João Ubaldo Ribeiro. Escrevi recentemente sobre ele, AQUI.

Noites lebloninas eBook de João Ubaldo Ribeiro - EPUB Livro | Rakuten Kobo BrasilSe você não leu, está perdendo a chance de rir. Claro que não é o riso fácil, pastelânico. Também não é algo sutil, percebido pela intelligentsia, que adora sorrir comedidamente porque somente ela compreendeu o que se quis dizer. Esqueça isso. O livro é composto de duas histórias narradas por um porteiro de prédio no Leblon, onde realmente morava o autor. O porteiro, narrador ágil que mistura referências e chama Shakespeare de Chico Pires e acha que o rei inglês degolador chamava-se Henrique Otávio, é o que de melhor li na literatura de humor nos últimos tempos.

O livro, publicado alguns meses após a morte de João Ubaldo, mostra que não perdeu a força humorística nascida e criada em Vencecavalo e o Outro Povo, também engraçadíssimo. João era cronista por excelência, e esse gênero possui umas permissões burlescas tão naturais quanto frequentes. As histórias, por si, já são o próprio humor: uma delas, a que dá título ao livro, fala sobre uma bacanal protagonizada por um ex-surfista frustrado chamado Saqualulu, dois porteiros (um deles, o narrador), e algumas senhoras da sociedade carioca.

Morre escritor baiano João Ubaldo Ribeiro - BAHIA NO ARA outra história – ainda melhor – fala de um cachorro de nome Falafina, que auxilia seu dono em conquistas homossexuais, selecionando quem ele, o dono, deve ou não levar para casa para fornicar. É mais que engraçado. É hilário. O título também não deixa a desejar: O Cachorro Falafina e seu dono Dagoberto. Sim, o cachorro late fino, pensa, raciocina e sabe ler. Ou, pelo menos, é isso que constata o narrador. Vale ler, vale rir. João Ubaldo Ribeiro, e eu já disse isso, é dos melhores.

About the author

Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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