Paulo, Henry

Em épocas de juvenismo político, quando autores de direita me ameaçavam tanto quanto a gripe que escorria de minhas narinas, cheguei a imaginar que Paulo Francis era um idiota, um pascácio de ideias curtas. Eram os anos 1980, quando ele aparecia no quase fechamento do último telejornal noturno da Globo, comentando sobre costumes, arte, comportamento, jornalismo, música clássica, exposições, livros, teatro – tudo, evidentemente, do e no país em que vivia, os Estados Unidos. A voz era inconfundível, carregada de desprezo por aqueles que discordavam dele e uma certa arrogância com quem o admirava. Blasé ao extremo.

Resultado de imagem para o livro dos insultosEu disse, há algumas postagens, que Diogo Mainardi queria ser Paulo Francis. Digo e repito. E falo mais: Paulo Francis queria ser Henry Louis Mencken, o temido jornalista norte-americano cujas observações – tão lúcidas quanto ácidas – de natureza cultural, política, religiosa, econômica, pautaram o quotidiano norte-americano durante 60 anos. Era uma fera indomável, marcado por um profundo conhecimento sobre o assunto que dissertava. Batia em quem considerava medíocre ou desprezível: padres, pseudointelectuais, políticos aproveitadores, escritores de segunda linha, artistas pretensiosos. Não poupou ninguém – a não ser quem merecia.

Cada um a seu modo, tanto Paulo Francis quanto H. L. Mencken são necessários. Precisamos de figuras assim, capazes de encarar a realidade sem as indulgências advindas da política, da grana, do aconchego da estabilidade no ofício, do mercado que dita as regras. Tanto um quanto o outro adquiriram o status do intelectual cáustico, capaz de enfrentar o establishment de maneira nem sempre elegante. Tinham muito a dizer sobre vários assuntos, marcando o território com a polêmica tão necessária a qualquer discussão entre indivíduos ou grupos inteligentes. O Livro dos Insultos de Mencken, publicado em 1988, é uma coletânea, selecionada por Ruy Castro. São textos extraídos de A Mencken Chrestomathy. Um iconoclasta de primeiríssima linha. Merece a leitura.

O livro de Francis é organizado pelo jornalista Nelson de Sá – e ao que parece, seu fã. Selecionou bem. Há artigos de toda sorte: da hipocondria de Woody Allen ao populismo de Jorge Amado; da burocracia de Gorbachev ao cinema de Coppola, passando por Freud, Truman Capote, Cacilda Becker, políticos como Lula, Collor, Brizolla e…Henry Louis Mencken, a quem admirava por motivos óbvios. É divertido ouvi-lo desancar alguns ícones, debochar da boçalidade e da jequice de alguns artistas, sejam brasileiros ou estrangeiros. O livro também merece uma checada. São 386 páginas de puro deleite, se você aprecia ataques à mediocridade.

Para ler frases de Mencken, clique AQUI.

Se quiser ler alguns aforismo de Francis, clique AQUI.

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Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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