Castro, Jobim: textos curtos demais

Volto a Antônio Carlos Jobim – e também a Ruy Castro. Já escrevi sobre os dois, aqui, neste blogue que poucos leem. Há alguns anos imaginei que meus leitores fossem seis ou sete. Hoje já solto fogos quando alguém aparece por estas cercanias. Desabafos à parte, vamos a Tom & Ruy. Acabo de ler O Ouvidor do Brasil – 99 vezes Tom Jobim, do jornalista-escritor-biógrafo-imortal Ruy Castro. Li de uma tacada: 220 páginas com 99 crônicas – todas elas curtas – que versam sobre o maestro. Falei errado: nem todas versam. Algumas apenas citam. Lendo a introdução, o cronista foi sincero: “Em alguns [textos] a presença de tom poderá parecer de passagem.” É verdade.

Tom Jobim é realmente um craque. Uso o presente do indicativo porque obra e autor, aqui, mostram-se confundidos, metonímicos: sua obra não morre, de modo que o criador mantém-se entre os vivos. Ruy Castro também é craque, e já mostrou isso escrevendo sobre Bossa Nova, sobre Garrincha, Nelson Rodrigues, Carmen Miranda. Escreveu sobre Ipanema, sobre o samba-canção e sobre alguns selecionados artistas do século XX. Escreveu sobre filmes, sobre música e sobre literatura. É homem de repertório farto.

Em O Ouvidor do Brasil há um problema – que não se encontra em nenhum outro livro de Ruy Castro (talvez em Ela é Carioca, mas isso merece uma postagem única). O texto curto não lhe faz bem. Ele é bom quando tem tempo para escrever, quando mergulha fundo naquilo que elegeu como assunto e como obsessão. É preciso, para esse mergulho, muito fôlego – e ele tem isso de sobra. E quando é obrigado a vir à tona, para respirar e tomar sol? Os textos, publicados entre 2007 e 2023, na Folha de São Paulo, obrigaram-no a sintetizar algo que não merecia síntese. Pode ser que muitos tenham apreciado sua capacidade de falar muito com poucas palavras. Eu, não.

Ao final de boa parte das pequenas crônicas, fiquei com aquela sensação de que o autor teria feito um trabalho muito melhor caso tivesse mais duas páginas – apenas duas, não mais que isso. A linguagem de Ruy Castro se mantém clara, irônica, bem armada, por vezes mordaz. É sua vantagem e nosso privilégio. Limitá-la (e tenho certeza de que a responsabilidade é do veículo, a Folha) é um pecado. Mesmo assim, merece ser lido – afinal, quantas oportunidades temos de ver um craque falar do outro?

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Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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