A angústia de Graciliano

Angústia é um grande livro. Dos maiores de Graciliano Ramos, autor modernista que se tornou famoso pelo talento extraordinário, pela economia verbal e por apresentar um estranho mundo ao leitor extranordeste. Sem ele, estaríamos privados do Fabiano de Vidas Secas, do Paulo Honório de São Bernardo – e, claro, de Luís da Silva, personagem de Angústia, o tal grande livro da primeira frase. Luís da Silva, como já muito se disse, é nosso Rodion Românovitch Raskólnikov, nosso angustiado criminoso, sofrido porque não se ajusta a si mesmo. Sofrido porque se culpa.

O vestibular da Fuvest é o mais prestigiado exame de acesso à universidade brasileira. É uma prova que exige maturidade, raciocínio, sensibilidade e rapidez daquele que pretende obter sucesso – ou seja, ingressar na USP. Não é fácil, como se sabe. Para muitos, é a elite universitária de um país que, aos poucos, vai descredibilizando o 3º grau, como se ele não fosse necessário ao mercado de trabalho. Uma tolice alimentada por aqueles que consideram a universidade um antro de cannabis, uma pocilga pornográfica da qual brotam vagabundos, belzebus e gente esquisita.

Sinceramente? É uma ousadia, a meu ver, selecionar Angústia no universo criado por Graciliano Ramos. Eu explico. O autor alagoano, célebre por representar o romance regionalista nascido a partir de 1930, dedicou boa parte de duas narrativas a expor o homem que vivia numa determinada condição – rústica, pobre, interiorana, provinciana, opressora -, apresentando seu modo de vida, as dificuldades oriundas de uma existência limitada, os desejos reprimidos e a inexorabilidade de um ambiente que deseja oprimi-lo. É assim em Caetés, em Vidas Secas e em São Bernardo, seus clássicos já citados.

Angústia acompanha os contos de Insônia (que não chega a ser um grande livro, a meu ver). É na cidade que a coisa se desenrola – a paixão, o crime, a criação literária, a frustração, o medo, as limitações. E, claro, a angústia, marcada justamente pela culpa e pela possibilidade de ser encarcerado, já que a personagem central – Luís da Silva – torna-se um assassino. É nesse ambiente, feito de pedra, concreto, repartições públicas, habitações suburbanas e cultura machista que Angústia dá os passos para se tornar uma obra-prima. Vale a leitura, caso você, leitor, não já a tenha realizado. Duvido.

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Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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