A Boêmia de Paris

Jerrold Seigel é um historiador norte-americano cuja principal característica não é o detalhe, a fofoca, a particularidade. Deixa isso para historiadores que têm no leitor curioso – e somente nesse tipo de leitor – seu principal alvo. Aquele que quer, na rodinha de amigos, expor algo tão inédito quanto desnecessário. Seigel preocupa-se com o macrocosmo: com as causas sociais, culturais e políticas de uma época e de uma região (também macrocósmica), como a Europa. Esse específico texto, Paris Boêmia – cultura, política e os limites da vida burguesa (1830-1930),  engloba 100 anos de uma vida cultural que determinou as características de outras vidas que, hoje, são essenciais a quem se interessa por arte, cultura, sociedade, política, história.

PARIS BOÊMIA: CULTURA, POLÍTICA E OS LIMITES DA VIDA BURGUESA (1830 - 1930)  - Jerrold Seigel - L&PM Pocket - A maior coleção de livros de bolso do  BrasilO termo boêmia tem origem cigana – o que já indica a marginalidade sobre a qual o livro versará. Esse marginal (artista ou não) ´é o contraponto ao burguês, ao bem nascido, que desfrutava de um ambiente confortável e de uma renda segura. Ao mesmo tempo, quase como um paradoxo, Jerrold Seigel mostra que a ideia de burguês varia de acordo com a fatia social a que pertence seu opositor.  Em outras palavras: não existiria o burguês se não houvesse sua consequência: o marginal. No caso específico do livro: o boêmio.

A contestação e a busca pela liberdade total são a tônica daqueles artistas (ou outros) que, na cidade de Paris – e arredores – buscavam alternativas que desembocariam, 50 anos depois, naquilo a que se denominou, quase institucionalmente, de vanguardas: Dadaísmo, Futurismo, Cubismo, Fauvismo, Expressionismo e, mais tarde, Surrealismo. O embrião está na vida boêmia: escritores, pintores, analistas de uma sociedade que consideravam decadente, professores. Todos eles frequentadores dos cafés parisienses, locais identificados com a boêmia nas décadas centrais do século XIX. A propósito: Jerrold Seigel é este:

Jerrold Seigel — New York Institute for the Humanities

Gente do Simbolismo (Verlaine, Rimbaud, Corbiére, Mallarmé, e principalmente Baudelaire), do Realismo (Balzac, Flaubert), da pintura moderna (Picasso, Modigliani), da música e do teatro (Eric Satie, Alfred Jarry) – todos eles, indivíduos que transformaram o futuro – hoje nosso presente -, passaram pelas fronteiras da Boêmia, esse mundo criativo, insolente, desafiador, que uniu política e arte e que nos legou um tempo melhor e mais fecundo. Se puder, leia o livro. Ainda não se tornou clássico nem sei por quê.

About the author

Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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