Juan José Arreola já deu as caras por aqui, no Ipsis. Mas por que retorno a ele? Pelo mesmo motivo que me fez escrever sobre Donald Barthelme, há poucos dias: a ignorância das editoras brasileiras em relação a alguns autores essenciais. Essenciais a quem? Eis a questão. É difícil afirmar que um determinado autor é mais representativo do que outro, exceto quando é uma assertiva óbvia. Tolstoi é mais importante que Rubem Fonseca? Sim. E assim por diante. Mas não é esse o ponto. A questão reside na dúvida: por que Juan José Arreola, assim como Barthelme (e outros), é praticamente autor inédito no Brasil?
O advérbio em itálico se faz necessário, já que em 1969 veio a público a edição de Confabulário Total, uma reunião de seus contos até 1961. Depois disso, até onde sei, somente em 2015, uma edição menorizada desta obra-prima chega aos olhos dos brasileiros. Arreola, mexicano, tão importante quanto os conterrâneos ilustres e justificadamente badalados Juan Rulfo e Carlos Fuentes, não escreveu muito literatura – e nem precisava mais. Já havia escrito o suficiente para eternizá-lo. Tem uma novela (La Feria, 1963) e Palíndroma, 1971. Não li nenhum dos dois – ainda. Os livros Bestiário, Confabulário, Vária Invenção e Prosódia estão – ainda bem! – em Confabulário Total, o que faz deste livro uma avis rara.
Outra figura ausente nas traduções para o português é Richard Brautigan, ícone contracultural, escritor de primeira – mas não de fácil leitura (não foi, para mim). Para não dizer que nada existe dele editado no Brasil, há uma edição de Pescar Truta na América feita pelo saudoso José J. Veiga, ed. Marco Zero, 1991. Diferentemente da prosa de Arreola, algo poético e que beira o real-maravilhoso, a prosa de Brautigan assemelha-se a um pesadelo, um emaranhado de imagens conectadas de forma aparentemente aleatória, mas só aparentemente. É uma aventura intelectual e emotiva lê-lo. Um convite a tirar os pés do chão e sair num voo cego, como ele mesmo faz. Não, meu sétimo leitor, não estou exagerando. Tenho dele A Confederate General from Big Sur, Dreaming of Babylon e o ótimo The Hawkline Monster, um faroeste contemporâneo. Quer saber? Já pensei em me aventurar na tradução, mas desisti. Não me sinto apto.
Richard Brautigan suicidou-se aos 49 anos. Não aguentou a mudança de temperatura: se nos anos 1960 foi aclamado como um deus literário por uma juventude transgressora e pacifista, na metade da década seguinte experimentou o ostracismo, foi deixado de lado, viu a fama expirar. Entupiu-se de álcool e, vivendo sozinho, após uma série de casamentos fracassados, atirou contra a própria cabeça. Foi encontrado um mês depois, o corpo decomposto, algo bastante contraditório com sua prosa, quase zen budista, alegre, adolescente (no bom sentido), mas seca como um parágrafo de Hemingway. É uma ausência sentida, em todos os sentidos. Ei-lo: