Roberto, Erasmo e O Bofe

Hoje é dia 19 de abril e o cantor e compositor Roberto Carlos faz 79 anos. Na estrada desde 1961, esse conhecidíssimo senhor já não tem a potência de antes, mas consegue disputar público com duplas sertanejas, padres cantores e funkeiros iletrados. Mantém inatacada a fidelidade de seu público, praticamente não faz shows e tem a seu dispor um grupo de músicos de primeiríssima linha. Não sou fã, mas respeito o trabalho do distinto. E, mesmo não sendo fã, tenho alguns discos em que o talento dele é posto à prova. E passa de ano, com louvor.

Como este blogue, todavia, não suporta os clichês, resolvi falar de um disco especial: a trilha sonora de O Bofe, que não apresenta a voz afinada de Roberto Carlos. Por quê? Porque todas as canções são interpretadas por outras cantores: Jaques Wu, Osmar Milito, Elza Soares, Os Vips, Nelson Motta e mais alguns menos votados. É um disco bem feito, suingado, há algo de soul nele, há algo de rock – tudo misturado, claro. Aquilo que os críticos chamam de música romântica, marca registrada de Roberto, não predomina. Ah, não consta da discografia da dupla Roberto/Erasmo. Isso faz dele ainda mais especial. Se quiser ouvir o disco, CLIQUE AQUI.

Em frente ao coqueiro verde

Não há canção ruim neste elepê, e não falo apenas de gosto pessoal. Letras bem armadas, irônicas, ligeiras, debochadas. Os arranjos? São simplesmente elaborados por Waltel Branco, que trabalhou com Tim Maia, Marcos Valle, Flora Purim, Rosa Passos. Acha pouco? Então lá vai: Chico Hamilton, Dizzy Gillespie, Henry Mancini, Sergio Mendes e João Gilberto, além de ser um dos responsáveis pela trilha de A Pantera Cor de Rosa. Está bom, não? E quem produziu o disco foi Eustáquio Sena, que ficou conhecido como produtor do mais importante – segundo a crítica especializada – disco de música brasileira: Acabou Chorare, dos Novos Baianos. Eustáquio canta a faixa Perdido no Mundo.

Ficheiro:O bofe - nacional.jpg – Wikipédia, a enciclopédia livre

Tenho pouca recordação da telenovela. Lembro-me de Ziembinski vestido de mulher e de Claudio Marzo barbudão. A trilha vim a conhecer uns quinze anos depois, quando, já mais amadurecido, deixei de falar que telenovela é alienação e que suas trilhas sonoras prestam-se unicamente a vender bobagens que vão povoar lares incultos. E passei também a reconhecer o talento de Roberto Carlos, antes relegado a cafona, ultrapassado, chato. Merece os parabéns, também pelo aniversário.

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Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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