Guy, o cara

Guy Ritchie | Moviepilot.deGuy Ritchie fará 53 anos amanhã, dia 10 de setembro. Não, não é só ex-marido de Madonna, como muita gente acha. É um cineasta de primeira, que dirigiu três filmaços dignos de entrar em qualquer lista em que o sarcasmo, o deboche e a iconoclastia sejam prerrogativas. Quais são eles? Pela cronologia, Jogos, trapaças e dois canos fumegantes, de 1998; Snacth – Porcos e diamantes, de 2000; e Rocknrolla, de 2008. Sem trocadilhos, Guy é “o cara”, que parece divertir-se ao contar histórias – afinal, em dois desses três filmes ele foi o roteirista. Pois é: sabe escrever.

Como a maioria das pessoas, assisti aos três filmes separadamente, em épocas distintas. Já tomei providências para assistir a eles, em sequência. Comprei os blu-rays, os quais devem chegar em poucos dias, para o deleite solitário de quem quer ver rock and roll em forma de película. Sim, o que Guy Ritchie faz, em minha humilde opinião, é música em forma de cinema. E música veloz, com mudanças de andamento, de vocalização grave, com a marcação paquidérmica da bateria, com guitarras gritando alto.

Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes | Uma Dose de Cinema

Meu preferido é justamente o primeiro: o arrebatador Jogos, Trapaças e dois canos fumegantes. Carregado de humor – um dos pontos fortes de Guy Ritchie -, o filme é uma homenagem às tramas norte-americanas que aliam gangsterismo a marginais um tanto ingênuos, mas ambiciosos porque a contravenção pode compensar, desde que bem pensada. Os dois ex-atletas Jason Stathan e Vinnie jones estão nele, assim como também se fazem presentes em Snatch – Porcos e diamantes. Bem, mas nesse quem brilha é Brad Pitt, boxeador cigano de um soco só. Ah, claro: Dennis Farina e Alan Ford fazem parte da grande festa.

Rocknrolla é o rock per si. Da trilha sonora à trama, envolvendo um cantor punk e drogadíssimo cujo pai adotivo é um gângster envolvido com bandidagem russa e com políticos corruptos. É outra festa, da qual fazem parte escroques, parasitas, mafiosos e, claro, advogados. A velocidade narrativa, os recursos fílmicos e as personagens cínicas fazem do filme um clássico recente, mesmo sendo o tema algo tão batido quanto um solo dos Ramones. E Mark Strong, Gerard Butler, Idris Elba, Tom Hardy e Toby Kebbell ainda não tinham sucesso mundial. Vale ver e rever, tenha certeza!

Músicos pintores #1: Miles Davis

Não é incomum um artista, já sacralizado em seu ofício, aventurar-se numa outra arte, nunca antes visitada por ele. E menos incomum ainda é ver gente ligada à música conectar-se à pintura, como se essa conexão fosse visível e compreendida por gente comum, desligada da criação artística. Ron Wood, dos Stones; Dee Dee Ramone, dos Ramones, Joni Mitchell e Bob Dylan deram pinceladas que foram celebradas, ora por seus fãs, ora por gente especializada no assunto. O primeiro desses aventureiros merece destaque, a meu ver: Miles Davis. Veja só o que o jazzista produziu:

Miles já havia transformado uma de suas telas em capas de disco. Amandla é um exemplo. Não consigo, e isso pode ser uma falha minha, conectar seus quadros ao jazz, como se audição e visão se misturassem numa sinestesia óbvia. Nos quadros de Miles Davis, há alguma coisa de Basquiat, e não somente algo que se conecte à negritude ou à marginalidade. O exercício da abstração, aliado ao senso de expressão subjetiva, sugere influências de Kandinsky e da arte tribal africana. AQUI você fica sabendo mais.

Miles Davis levava a pintura a sério. Ele mesmo dizia que a pintura era a música que podia ser vista, enquanto a música era a pintura absorvida pela audição. Essa ideia não é de fácil percepção, até porque o próprio músico dedicou-se à pintura por considerar sua carreira como músico terminada. Ou seja: é possível que seus quadros exprimam justamente essa angústia – mas isso, a meu ver, nada significa para quem se depara com eles. O que interessa é o que vemos; não o que o pintor quer exprimir. Estou falando o óbvio.

Jo Gelbard, pintora e professora, orientou Miles, aceitando o desafio de fazê-lo libertar-se de fantasmas que habitavam seu passado. Chegaram a criar juntos, de forma colaborativa. Ela mesma afirmava que “tentava fazer Miles ocupar a mente com elementos positivos quando não estava produzindo música.” AQUI está uma entrevista interessantíssima com ela. Tiveram um envolvimento amoroso que foi bom para ambos, tendo a pintura como leitmotiv e como consequência. Bom para os dois; bom para nós.

Discursos de formatura, by KV

Escrevi, há cinco anos, sobre Kurt Vonnegut ser um humanista. Clique AQUI e você poderá ler. Mantenho minha obsessão por seus livros, e acabo de ler uma edição em português de 15 discursos de formatura proferidos por ele entre 1978 e 2004. Não é para menos: o sucesso estrondoso de Matadouro 5, publicado em 1969, tornou Vonnegut um herói para a juventude. É um livro humanista, pleno de sarcasmo e crítica à opressão, travestido de ficção científica. Quem assim o classifica não compreendeu nada. Pois o humanismo de Kurt Vonnegut se mantém em quase todas as suas obras – e nesses discursos nada muda.

O título da reunião de discursos é O que tem de mais lindo do que isso? Bem, não quero ser pedante, mas o título em inglês é bem mais interessante: Is this isn’t nice, what is? Enfim, traduções à parte, Vonnegut viveu e morreu um humanista, e esses discursos provam isso. Um humanista é o sujeito que se preocupa com o próximo, com a vida humana, espalha a generosidade, busca a dignidade, compadece-se com o sofrimento alheio e tenta, ao máximo, tornar este mundo melhor. Parece piegas? Não, não é.

Claro que a veia irônica, por vezes (inúmeras) bem-humorada, está presente. Não há como abandonar a própria característica, principalmente quando ela define quem dela faz uso. Em geral, essa verve cheia de humor é tão cáustica quanto necessária, afinal é justamente este mundo e seus habitantes que tornam a existência algo insuportável. Vonnegut tem uma mensagem aos formandos: mudem este planeta, ou seremos vítimas de nós mesmos.

Apesar de humanista, não crê muito no ser humano. Lá pelas tantas, falando aos formandos da Eastern Washington University, na cidade de Spokane, em Washington, Vonnegut diz: “Querem saber pelo que rezo todas as noites? Eu me ponho sobre meus velhos joelhos, no meu catre perto do quartinho do carvão, e rezo com todo o meu coração: ‘A quem interessar possa: poderia, por favor, botar minha alma dentro de uma lontra-marinha ou de uma coruja-das-torres?’ Eu preferiria ser uma lontra-marinha a ser um ser humano, mesmo que houvesse mais um vazamento de óleo.” O itálico é por minha conta. Valeu, Kurt Vonnegut, mais uma vez.

A angústia de Graciliano

Angústia é um grande livro. Dos maiores de Graciliano Ramos, autor modernista que se tornou famoso pelo talento extraordinário, pela economia verbal e por apresentar um estranho mundo ao leitor extranordeste. Sem ele, estaríamos privados do Fabiano de Vidas Secas, do Paulo Honório de São Bernardo – e, claro, de Luís da Silva, personagem de Angústia, o tal grande livro da primeira frase. Luís da Silva, como já muito se disse, é nosso Rodion Românovitch Raskólnikov, nosso angustiado criminoso, sofrido porque não se ajusta a si mesmo. Sofrido porque se culpa.

O vestibular da Fuvest é o mais prestigiado exame de acesso à universidade brasileira. É uma prova que exige maturidade, raciocínio, sensibilidade e rapidez daquele que pretende obter sucesso – ou seja, ingressar na USP. Não é fácil, como se sabe. Para muitos, é a elite universitária de um país que, aos poucos, vai descredibilizando o 3º grau, como se ele não fosse necessário ao mercado de trabalho. Uma tolice alimentada por aqueles que consideram a universidade um antro de cannabis, uma pocilga pornográfica da qual brotam vagabundos, belzebus e gente esquisita.

Sinceramente? É uma ousadia, a meu ver, selecionar Angústia no universo criado por Graciliano Ramos. Eu explico. O autor alagoano, célebre por representar o romance regionalista nascido a partir de 1930, dedicou boa parte de duas narrativas a expor o homem que vivia numa determinada condição – rústica, pobre, interiorana, provinciana, opressora -, apresentando seu modo de vida, as dificuldades oriundas de uma existência limitada, os desejos reprimidos e a inexorabilidade de um ambiente que deseja oprimi-lo. É assim em Caetés, em Vidas Secas e em São Bernardo, seus clássicos já citados.

Angústia acompanha os contos de Insônia (que não chega a ser um grande livro, a meu ver). É na cidade que a coisa se desenrola – a paixão, o crime, a criação literária, a frustração, o medo, as limitações. E, claro, a angústia, marcada justamente pela culpa e pela possibilidade de ser encarcerado, já que a personagem central – Luís da Silva – torna-se um assassino. É nesse ambiente, feito de pedra, concreto, repartições públicas, habitações suburbanas e cultura machista que Angústia dá os passos para se tornar uma obra-prima. Vale a leitura, caso você, leitor, não já a tenha realizado. Duvido.

Respostas ao DESAFIO do IPSIS LITTERIS

1) Da esquerda para a direita: Canhoto, Dino (por trás do Canhoto), Abel Ferreira, Elizeth Cardoso, Clementina de Jesus, Cartola, Pixinguinha e Jorge Marinho.

2) Henry Louis Mencken.

3) Joaquim Pedro de Andrade, Macunaíma.

Luiz Carlos Barreto, Dona Flor e seus dois maridos (por conta da maior bilheteria) e/ou O Quatrilho (indicado ao Oscar).

Leon Hirszman, Eles não usam black-tie.

Ressalte-se que a terceira pergunta não se refere à película de preferência de quem responde. É preciso que haja parâmetros para afirmar que obras são as mais importantes. No caso de Luiz Carlos Barreto, produtor de cinema, as obras Dona Flor…e O Quatrilho possuem parâmetros objetivos de classificação.

Dessa forma, aqueles que responderam aproximaram-se muito da resposta completa, mas, infelizmente, ninguém deu a resposta adequada. O prêmio acumula e será adicionado de mais itens para o próximo desafio, em dezembro.

Desafio do Ipsis Litteris

Mais um DESAFIO do Ipsis Litteris (o terceiro). O primeiro a acertar as 3 respostas – é necessário que sejam as 3! – ganhará os prêmios acima. Haverá somente 1 ganhador: aquele que responder primeiro, e enviar a resposta ao blogue. Os prêmios: 1 exemplar de Os Mamíferos – crônica biográfica de uma banda insular, de Francisco Grijó; 1 blu-ray Vinicius de Moraes e 1 exemplar do disco Cantando Vitória, de Pedro de Alcântara.

A duração do desafio: até terça-feira, dia 16, às 23h59! Caso ninguém acerte, a resposta será publicada neste horário. Boa sorte!

Eis as perguntas:

  1. Quem são as personagens na foto?

         2. Que crítico literário escreveu estas palavras sobre o romance Moby Dick?

        3. Qual a principal obra de cada um desses senhores destacados?

Amado há 110 anos

Jorge Amado teria feito, amanhã, 10 de agosto, 110 anos. É o grande contador de histórias deste país, a despeito de repetir-se em cenário – sua amada Bahia – ou de temática: os vilipendiados por uma sociedade branca, exploradora e desgraçadamente capitalista. Sua verve comunista, marcada por uma abissal indignação quanto às desigualdades de toda ordem, cedia espaço para a sensualidade feminina, para os exotismos do interior baiano, para o candomblé, para a cultura do cacau, para os desajustados sociais. Jorge Amado tinha imaginação, e partilhou-a sem qualquer limite com o leitor litorâneo e localizado, geograficamente, abaixo da fronteira baiana.

Li vários livros de Jorge Amado. Desde os preferidos por professores secundaristas – quando eu era aluno -, até aqueles considerados menos populares. Meu preferido, até hoje, é Tenda dos Milagres, um romance notável cheio de sensualidade e discussão acerca da mestiçagem brasileira. Citei-o, anteriormente. Seu herói, Pedro Archanjo é descrito como um Ojuobá (Olhos de Xangô). Jorge não era fácil: unir um arcanjo a uma entidade africana é adiantar o tema principal da obra. Isso sem contar do particular atletismo da personagem central que, lá pelas tantas, precisa vencer o capeta num ringue no mínimo singular: na cama.

Li Os Pastores da Noite, Os Velhos Marinheiros, O País do Carnaval, Jubiabá, Cacau, Suor, Capitães da Areia e, claro, encantei-me com Dona Flor, com Gabriela e com Tieta. Fiquei devendo – mas ainda pagarei a dívida – uma visita a Teresa Batista. Há uns 15 anos adquiri Navegação de Cabotagem, uma obra memorial cheia de pequenas boas histórias: situações, encontros, opiniões, lugares visitados, tributo aos amigos etc. Leio-a vagarosamente, contando as gotas. Quando fui empossado na Academia Espírito-santense de Letras, um amigo telefonou-me e perguntou, não sem certa ironia, se eu havia lido Farda Fardão Camisola de Dormir. Não, não li – ainda.

A Universidade, até onde sei, não aprecia muito Jorge Amado, já que ele não possui as ousadias transgressoras da modernidade, não é dado a novidades estruturais na narrativa, não se comunica muito com os europeus ou com norte-americanos de sua época. Seu diálogo é com seus pares nordestinos: José Lins, Graciliano, José Américo, Rachel. Escreveu para o leitor, queria-o cúmplice da história, quase um participante dela. Percebeu que aquele que lê precisa de atenção e de reverência. Isso não significa usar linguagem simplória ou temática banal. Jorge Amado soube fazer literatura de qualidade para ser lida por todos. Todos, mesmo.

O melhor do Jazz #10: trompetistas

Quem são os maiores trompetistas do jazz? Bem, cada um tem sua preferência – e eu me incluo nesse cada um. Essa série O Melhor do Jazz revela, é evidente, minha preferência. Já adianto que deixo de lado um jazzista hors concours (que, hoje, faria 121 anos): Louis Armstrong. Justifico: além de ser o “pai” de todos, foi – mais uma vez a meu ver – superior a outros trompetistas, independentemente da época. Fica de fora, então. Agora, meu top 5:

Dizzy Gillespie é um dos maiores nomes do jazz, considerado o criador do bepob, ao lado de Charlie Parker. Sendo seu fraseado constantemente inventivo, criou um vocabulário jazzístico próprio, muitas vezes sincopado. Foi virtuose, mas foi, também, vanguardista, ligando o jazz norte-americano à música caribenha – para horror dos puristas. É uma figura genial, um instrumentista de primeira linha, imitado, admirado, reconhecido. Sugestão: ouça Bird and Diz, AQUI. É um dos clássicos do jazz.

Miles Davis mudou o jazz três vezes. Criou o modal jazz, o cool jazz e o  jazz fusion. A despeito de concordar ou não comigo, é um nome fundamental do gênero. Sem sua liderança, não conheceríamos o melhor quinteto da história do jazz, nem o noneto que apresentou a conexão com a música clássica, nem a troca de beijos com o rock. Miles arregimentou músicos como ninguém fez, nem antes nem depois. Essencial! Sugestão: ouça, AQUI, ‘Round About Midnight, um dos grandes discos do quinteto de Miles, no qual brilhavam John Coltrane, Paul Chambers, Red Garland e Philly Joe Jones.

Miles Davis: ser ou não ser cool, eis a questão

Clifford Brown é, para muita gente, o melhor de todos os trompetistas. Tenho todos os discos dele pela Emarcy, e meu preferido é este AQUI. Sua morte prematura, aos 25 anos, contribuiu para a mística de que um substituto para Louis Armstrong havia deixado este mundo, embora tenham tido, ambos, diferentes estilos. A potência do sopro, as frases limpas e a força improvisativa eram suas marcas inequívocas. Um músico genial, que sobressaiu ao lado de um dos maiores bateristas de jazz de todos os tempos, Max Roach.

Clifford Brown Jazz Festival (Live Virtual Stream) - JazzBuffalo

Dentre os inúmeros discos de Lee Morgan que possuo, Leeway é o que mais me impressiona – e o primeiro que adquiri, no início dos anos 1990. AQUI você o ouve, inteirinho, em companhia de quem o projetou, Art Blakey, e de um dos ótimos pianistas do jazz, Bobby Timmons. Muito ligado ao blues, Lee Morgan criou uma forma muito particular de tocar: solos longos, bem articulados, claros, inspirados no som de seu primeiro professor, Clifford Brown. Lee morreu aos 33 anos, assassinado pela esposa.

Casamento, assassinato e heroína: o trágico conto do trompetista de jazz  Lee Morgan

Woody Shaw empatou com Fats Navarro, Donald Byrd, Freddie Hubbard e Clark Terry na escolha do quinto nome. Escolhi-o porque, ao ouvi-lo, lembro-me de dois outros grandes trompetistas (que não entraram na lista): os citados Navarro e Hubbard. Woody Shaw mistura a força improvisativa do primeiro e o suingue cerebral do segundo. AQUI um disco fabuloso, com standards do jazz, e em companhia do excelente pianista Cedar Walton.

Last studio recording of jazz trumpeter Woody Shaw released | PBS NewsHour

Próxima edição: os quintetos.

Barrocos fundamentais

Alguém disse – e eu acredito – que a música barroca é o apogeu da criação na arte. Principalmente a música barroca alemã, capitaneada pela maior personalidade da música: Johann Sebastian Bach. O barroco musical italiano não fica muito atrás, e, caso quem está lendo duvide, ouça o disco abaixo. É uma coletânea da folia barroca, na qual brilham 4 italianos, um francês e um alemão. No dna deste último descansava a herança do citado Johann. Essa coletânea é simplesmente a melhor compilação de música barroca (reunida em apenas um disco) que conheço. Eis a capa:

Quem são os italianos? Corelli, Geminiani, Scarlatti e Vivaldi. O francês é Marin Marais e o alemão, o filho mais criativo de Bach: Carl Philipp Emanuel. O Quarteto Purcell – formado por Robert Wooley (cravo e órgão), Richard Boothby (violoncelo) e por duas Catherines nos violinos: Weiss e Mackintosh – é de uma extraordinária competência. A exatidão da execução é tanta que parece ter sido corrigida (como se houvesse necessidade!) por programas de computador. Coisa assombrosa, ao mesmo tempo que edificante e tremendamente emotiva. Eis o time:

Primary

A música barroca está em primeiro lugar, no que se refere às minhas preferências. A polifonia, o uso do baixo contínuo – que só fui compreender muito tempo depois de ouvir exaustivamente – e a inventividade de tantos sons combinados me fizeram admirar, primeiramente, J. S. Bach. Depois, fui a seus pares: os seis senhores que compuseram as variações que geraram esse disco excepcional. Confesso que minha predileção, dentre as seis gravações, está centrada no meu xará, Francesco Geminiani e seu Concerto Grosso La Folia (after Corelli). Infelizmente essa gravação não é com o Quarteto Purcell.

Caso se interesse, aí vão os links para se ouvir: AQUI, 12 Variationen über Die Folie D’Espagne, de C. P. E. Bach. AQUI, Trio Sonata in D Minor (Variations on “La Folia”), de Vivaldi. AQUI, Folia From Toccata No 7 (Primo Tono), de Scarlatti. AQUI: Les Folies d’Espagne, de Marais. E, finalmente, AQUI, a genial Sonata In D Minor Op 5 No 12, de Corelli. Sinceramente? Eu ouviria todas, na sequência que quiser – não deixe de ouvir, contudo.

Filmes (re)vistos #7: Operação Dragão, 1973

Não se surpreenda: sou fã de Bruce Lee! Aliás, pouca gente de minha geração, que gosta de filmes de aventura, não o aprecia. Bruce Lee é o maior artista marcial que existiu e um dos três maiores bailarinos do cinema. Perde para Gene Kelly e para Fred Astaire – mas quem, neste mundo, não perde? Revi Operação Dragão semana passada, num canal fechado, e as lembranças de quando assisti ao filme pela primeira vez, no final dos anos 1970, encheram-me mais uma vez os olhos. É uma história bem contada – diferentemente da maioria dos filmes de artes marciais da época. Aliás, de qualquer época.

Estrelado por Bruce Lee, "Operação Dragão" vai ganhar reboot

Bruce é sensacional. Pula, voa (ou quase), estapeia, chuta, soca. Sem contar os uivos bem próprios dele, ao bater na malandragem. Não era grande coisa como ator, e nem precisava. O público – eu me incluo! – não estava ali para avaliar suas aptidões dramáticas, mas para vê-lo em ação em cenas coreografadas pelo próprio. Vê-lo lutar é como estar diante de um Nureyev oriental, descendo o malho em quem se opusesse a ele. E à justiça, claro, porque o herói está sempre do lado bom.

Operação Dragão é obra-prima do gênero. A história? Um grande campeonato de artes marciais, do outro lado do mundo, é o vetor para tráfico internacional de drogas. A personagem de Bruce vai até lá, bate em todo o mundo, mata o chefão e, evidentemente, desmonta o esquema. Está a serviço do governo paladino do mundo: o norte-americano. Bem, a película foi financiada pela Warner, que embutiu na história um de seus contratados: o sempre cínico John Saxon, bom de porrada também.

Jim Kelly acting alongside John Saxon discussing a lethal tournament held  on the deadly Han Islan | Enter the dragon, Jim kelly, Bruce lee

Não se pode esquecer de Jim Kelly, astro da Blaxploitation que, com a cabeleira black-power, dá um show particular. Ele e Saxon fazem uma grana extra apostando em si mesmos, nos confrontos com suas vítimas. É a parte bem humorada do filme – que, sinceramente, se você gosta de filmes de aventuras, com pancadaria estilizada, não deixe de assistir. Clássico do início ao fim.

AQUI, a sequência clássica do filme: “Tábuas não revidam!”

 

 

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