Minha lista (devida)

Listas divertem – e somente isso. Divertem quem lê e quem a produz. Aquele que lê adora discordar, criticar, mandar às favas. Embora concorde com alguns pontos, prefere apontar, de fato, aquilo de que discorda. Comigo é assim. Deve ser assim com você também, prezado(a) leitor(a). Há algumas semanas, postei uma lista de discos escolhida por vários jornalistas espalhados pelo Brasil. Comentei-a, AQUI. Se quiser lê-la antes de ler a minha, fique à vontade.

Ressalto: não entraram na lista música instrumental ou clássica. Você perceberá também que nenhum dos discos envolvidos tem menos de 40 anos. Sim, é preferência minha. E não há somente MPB, como se pode observar. Canção do Amor demais é um disco de bossa nova, assim como Chega de Saudade. Entraram, contudo, na lista. Não sou tão purista quanto pareço. Ei-la:

ÓPERA DO MALANDRO – Teatro em Escala1. Ópera do Malandro, Chico Buarque. O disco duplo é a perfeição, da escolha dos intérpretes à confecção das canções. Algumas delas obras-primas, como Geni e o Zepelim, O Meu Amor, O Malandro e Uma Canção Desnaturada. E a ópera, que fecha o disco, é de fazer inveja a muitos escritores tarimbados. Arranjos do craque Francis Hime. Chico Buarque é o maior nome da MPB.

Alucinação de Belchior dialogando com a nossa época | LOID2. Alucinação, Belchior. Um disco em que brilham canções que ficarão para sempre – e olhe que nasceram entre 1973 e 1975! Exemplos? Como Nossos Pais, Apenas um rapaz latino-americano, A Palo Seco e Velha Roupa Colorida. Belchior é um dos melhores letristas do gênero, e este disco, em que quase todos os integrantes eram ligados ao rock, é seu apogeu.

Caetano Veloso – Bicho, 40 anos – linksonoro3. Bicho, Caetano Veloso. Todos os discos de Caetano entre 1969 e 1982 são ótimos, de modo que escolher este – de 1977 – não foi tarefa fácil. O que destaca? O Caetano absolutamente maduro e criativo. Canções como Tigresa, Gente, Um Índio, O Leãozinho e Alguém Cantando provam isso. Todas sensacionais: letra e música. Escolhi por conta delas.

Edu & Tom - Tom & Edu4. Tom & Edu, Edu Lobo/Tom Jobim. Junte Beckenbauer e Cruyff no mesmo time. Mal comparando, é mais ou menos isso. Dois maestros juntos, divertindo-se, cantando e tocando canções que eles mesmos eternizaram. Destaque para Vento Bravo, Chovendo na roseira, Pra dizer adeus e Luíza. Aliás, destaque para tudo, porque o disco é antológico!

Canção do Amor Demais – Wikipédia, a enciclopédia livre5. Canção do Amor Demais, Elizete Cardoso. Os fãs de Elis que me perdoem, mas Elizete é a maior cantora brasileira. Opinião particular – é óbvio. Agora imagine essa senhora sendo acompanhada por Tom Jobim e João Gilberto, pais da Bossa Nova! E imagine-a cantando canções de Tom & Vinicius! Se você aprecia o gênero, vais achar esse disco a obra-prima entre as obras-primas. Arranjado por Tom, todas as faixas são excepcionais. Bem, afinal é Elizete cantando.

Chega de Saudade - João Gilberto - LETRAS.MUS.BR6. Chega de Saudade, João Gilberto. Pois é: disco icônico, fundamental, do qual – confesso! – só fui realmente gostar após tê-lo ouvido na vida madura, nos meus quarenta e poucos. Sim, é revolucionário, criou um outro modo de se cantar samba, e gerou uma filharada que se mantém até hoje. Claro que algumas letras são bobinhas, infantis, mas o que conta é como se canta e como se toca. É um mundo que se abre, em 1959. Se você pensa que esse mundo fechou, erra.

Há 45 anos, Jards Macalé reunia | Podcast | Rádio Brasil de Fato7. Banquete dos Mendigos, Jards Macalé. Um disco-manifesto, comemorando os 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Emblemático, representou a reunião de vários nomes: Chico Buarque, Gal Costa, Johnny Alf, Paulinho da Viola, Edu Lobo, Jorge Mautner, Raul Seixas, Gonzaguinha, Milton Nascimento, Toninho Horta e, claro, Jards Macalé. Muita gente boa junta: difícil não sair algo fenomenal.

Refavela: como o álbum de Gil revolucionou a MPB nos anos 708. Refavela, Gilberto Gil. Por que não discos extraordinários como Refazenda, Um Banda Um, Nightingale ou Dia Dorim Noite Neon? Bem, primeiro porque Refavela também é extraordinário. Em segundo lugar, porque foi o primeiro disco de Gil que comprei, em 1979, dois anos depois de ele ter sido lançado. A relação é pessoalíssima. Não precisaria nem citar que Balafon, Sandra, No Norte da Saudade e a faixa-título são primores textuais.

Antologia - MPB 4 - Álbum - VAGALUME9. Antologia, MPB4. Gosto de todos os discos do MPB4, sem exceção. Nunca fizeram nada que me desagradasse. Os fãs do quarteto – se é que lerão esta postagem – vão torcer o nariz, afinal, como uma antologia pode ser o melhor disco? Pois é. Mas juntar pot-pourri de Ismael Silva, Ataulfo Alves, Chico Buarque, Tom Jobim, Paulinho da Viola, Nelson Cavaquinho, Noel Rosa, Monsueto, Dorival Caymmi e Baden Powell não é pouca coisa. E a afinação do quarteto é coisa de outro mundo. Discaço!

Milton Nascimento, LP Duplo Clube Da Esquina 2- Série Clássicos Em Vinil  [Disco de Vinil]: Amazon.com.br: CD e Vinil10. Clube da Esquina 2, Milton Nascimento. Sim: acho o número 2 melhor. Gosto daquele que ficou em primeirão, no juízo dos jornalistas. Prefiro este porque Canção Amiga, Casamiento de Negros, Credo, Paixão e Fé, Maria Maria Tanto estão nele. E, claro: Canción por la unidad de Latino America, em companhia de Chico Buarque, com um show de Wagner Tiso. Política e arte nas alturas.

Se quiser enviar a sua lista, sinta-se convidado(a) a fazê-lo.

Clarice entrevista

Clarice Lispector é um quindim na boca da crítica. Um pastel de Belém, um yoku moku, um baklava. É querida – não sem justiça – por um sem-número de acadêmicos que consomem suas palavras como se elas tivessem brotado do Evangelho. Enfim, há quem discorde. Eu, por exemplo. Reconheço que essa senhora sabia escrever, respeito-a como criadora, mas, para mim, é chatinha. Faltam-lhe bom humor, sarcasmo, ironia. É séria demais, atendo-se a emaranhados psicológicos e fluxos de consciência um tanto gratuitos. Claro que é apenas uma opinião. Como diz uma amiga evangélica, ao saber que será repreendida: “Lá vem cajado!”

Apesar de tudo, aprecio bastante um de seus livros (na verdade não é seu, mas organizado para que fosse) que, distante da ficção, mostram uma outra Clarice: a jornalista, a entrevistadora, a sensível e certeira inquiridora. Ao dizer sensível, quero afirmar, e afirmo, que a célebre escritora conseguiu, em conversas pouco protocolares, obter de seu entrevistado(a) aquilo que existe de mais interior, de mais suavemente escondido, aquilo de que jornalistas do senso comum passam longe. As entrevistas, publicadas pela antiga revista Manchete, foram feitas em pouco menos de 1 ano e meio.

Entrevistas | Amazon.com.brSão 42 entrevistados: gente da literatura, da música, das artes (cênicas e plásticas) e do esporte. Engana-se quem imagina que ela se sinta mais à vontade com seus pares – escritores, poetas e dramaturgos. As melhores entrevistas, a meu ver, foram feitas com o escultor Mário Cravo, com a atriz Tônia Carrero e com o pintor Iberê Camargo. Claro que isso é apenas opinião. Há pérolas proferidas por Antônio Callado, por Jece Valadão (num breve papo), pelo sempre ótimo cronista José Carlos de Oliveira. E por aí vai.

Há um certo romantismo nas questões levantadas por Clarice. Algo de quase ingênuo, de quase simplório, mas que obtém respostas singulares: algumas delas surpreendentes, como quando pergunta ao escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues sobre sentir-se realizado como escritor. A resposta: “Eu me considero inversamente um fracassado. Não me realizei e nem acho que alguém se realize. O único sujeito realizado é o Napoleão de hospício, que não tem Waterloo nem Santa Helena.” É isso aí, Nelson! Obrigado, Mme. Lispector!

Guy, o cara

Guy Ritchie | Moviepilot.deGuy Ritchie fará 53 anos amanhã, dia 10 de setembro. Não, não é só ex-marido de Madonna, como muita gente acha. É um cineasta de primeira, que dirigiu três filmaços dignos de entrar em qualquer lista em que o sarcasmo, o deboche e a iconoclastia sejam prerrogativas. Quais são eles? Pela cronologia, Jogos, trapaças e dois canos fumegantes, de 1998; Snacth – Porcos e diamantes, de 2000; e Rocknrolla, de 2008. Sem trocadilhos, Guy é “o cara”, que parece divertir-se ao contar histórias – afinal, em dois desses três filmes ele foi o roteirista. Pois é: sabe escrever.

Como a maioria das pessoas, assisti aos três filmes separadamente, em épocas distintas. Já tomei providências para assistir a eles, em sequência. Comprei os blu-rays, os quais devem chegar em poucos dias, para o deleite solitário de quem quer ver rock and roll em forma de película. Sim, o que Guy Ritchie faz, em minha humilde opinião, é música em forma de cinema. E música veloz, com mudanças de andamento, de vocalização grave, com a marcação paquidérmica da bateria, com guitarras gritando alto.

Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes | Uma Dose de Cinema

Meu preferido é justamente o primeiro: o arrebatador Jogos, Trapaças e dois canos fumegantes. Carregado de humor – um dos pontos fortes de Guy Ritchie -, o filme é uma homenagem às tramas norte-americanas que aliam gangsterismo a marginais um tanto ingênuos, mas ambiciosos porque a contravenção pode compensar, desde que bem pensada. Os dois ex-atletas Jason Stathan e Vinnie jones estão nele, assim como também se fazem presentes em Snatch – Porcos e diamantes. Bem, mas nesse quem brilha é Brad Pitt, boxeador cigano de um soco só. Ah, claro: Dennis Farina e Alan Ford fazem parte da grande festa.

Rocknrolla é o rock per si. Da trilha sonora à trama, envolvendo um cantor punk e drogadíssimo cujo pai adotivo é um gângster envolvido com bandidagem russa e com políticos corruptos. É outra festa, da qual fazem parte escroques, parasitas, mafiosos e, claro, advogados. A velocidade narrativa, os recursos fílmicos e as personagens cínicas fazem do filme um clássico recente, mesmo sendo o tema algo tão batido quanto um solo dos Ramones. E Mark Strong, Gerard Butler, Idris Elba, Tom Hardy e Toby Kebbell ainda não tinham sucesso mundial. Vale ver e rever, tenha certeza!

Músicos pintores #1: Miles Davis

Não é incomum um artista, já sacralizado em seu ofício, aventurar-se numa outra arte, nunca antes visitada por ele. E menos incomum ainda é ver gente ligada à música conectar-se à pintura, como se essa conexão fosse visível e compreendida por gente comum, desligada da criação artística. Ron Wood, dos Stones; Dee Dee Ramone, dos Ramones, Joni Mitchell e Bob Dylan deram pinceladas que foram celebradas, ora por seus fãs, ora por gente especializada no assunto. O primeiro desses aventureiros merece destaque, a meu ver: Miles Davis. Veja só o que o jazzista produziu:

Miles já havia transformado uma de suas telas em capas de disco. Amandla é um exemplo. Não consigo, e isso pode ser uma falha minha, conectar seus quadros ao jazz, como se audição e visão se misturassem numa sinestesia óbvia. Nos quadros de Miles Davis, há alguma coisa de Basquiat, e não somente algo que se conecte à negritude ou à marginalidade. O exercício da abstração, aliado ao senso de expressão subjetiva, sugere influências de Kandinsky e da arte tribal africana. AQUI você fica sabendo mais.

Miles Davis levava a pintura a sério. Ele mesmo dizia que a pintura era a música que podia ser vista, enquanto a música era a pintura absorvida pela audição. Essa ideia não é de fácil percepção, até porque o próprio músico dedicou-se à pintura por considerar sua carreira como músico terminada. Ou seja: é possível que seus quadros exprimam justamente essa angústia – mas isso, a meu ver, nada significa para quem se depara com eles. O que interessa é o que vemos; não o que o pintor quer exprimir. Estou falando o óbvio.

Jo Gelbard, pintora e professora, orientou Miles, aceitando o desafio de fazê-lo libertar-se de fantasmas que habitavam seu passado. Chegaram a criar juntos, de forma colaborativa. Ela mesma afirmava que “tentava fazer Miles ocupar a mente com elementos positivos quando não estava produzindo música.” AQUI está uma entrevista interessantíssima com ela. Tiveram um envolvimento amoroso que foi bom para ambos, tendo a pintura como leitmotiv e como consequência. Bom para os dois; bom para nós.

Discursos de formatura, by KV

Escrevi, há cinco anos, sobre Kurt Vonnegut ser um humanista. Clique AQUI e você poderá ler. Mantenho minha obsessão por seus livros, e acabo de ler uma edição em português de 15 discursos de formatura proferidos por ele entre 1978 e 2004. Não é para menos: o sucesso estrondoso de Matadouro 5, publicado em 1969, tornou Vonnegut um herói para a juventude. É um livro humanista, pleno de sarcasmo e crítica à opressão, travestido de ficção científica. Quem assim o classifica não compreendeu nada. Pois o humanismo de Kurt Vonnegut se mantém em quase todas as suas obras – e nesses discursos nada muda.

O título da reunião de discursos é O que tem de mais lindo do que isso? Bem, não quero ser pedante, mas o título em inglês é bem mais interessante: Is this isn’t nice, what is? Enfim, traduções à parte, Vonnegut viveu e morreu um humanista, e esses discursos provam isso. Um humanista é o sujeito que se preocupa com o próximo, com a vida humana, espalha a generosidade, busca a dignidade, compadece-se com o sofrimento alheio e tenta, ao máximo, tornar este mundo melhor. Parece piegas? Não, não é.

Claro que a veia irônica, por vezes (inúmeras) bem-humorada, está presente. Não há como abandonar a própria característica, principalmente quando ela define quem dela faz uso. Em geral, essa verve cheia de humor é tão cáustica quanto necessária, afinal é justamente este mundo e seus habitantes que tornam a existência algo insuportável. Vonnegut tem uma mensagem aos formandos: mudem este planeta, ou seremos vítimas de nós mesmos.

Apesar de humanista, não crê muito no ser humano. Lá pelas tantas, falando aos formandos da Eastern Washington University, na cidade de Spokane, em Washington, Vonnegut diz: “Querem saber pelo que rezo todas as noites? Eu me ponho sobre meus velhos joelhos, no meu catre perto do quartinho do carvão, e rezo com todo o meu coração: ‘A quem interessar possa: poderia, por favor, botar minha alma dentro de uma lontra-marinha ou de uma coruja-das-torres?’ Eu preferiria ser uma lontra-marinha a ser um ser humano, mesmo que houvesse mais um vazamento de óleo.” O itálico é por minha conta. Valeu, Kurt Vonnegut, mais uma vez.

A angústia de Graciliano

Angústia é um grande livro. Dos maiores de Graciliano Ramos, autor modernista que se tornou famoso pelo talento extraordinário, pela economia verbal e por apresentar um estranho mundo ao leitor extranordeste. Sem ele, estaríamos privados do Fabiano de Vidas Secas, do Paulo Honório de São Bernardo – e, claro, de Luís da Silva, personagem de Angústia, o tal grande livro da primeira frase. Luís da Silva, como já muito se disse, é nosso Rodion Românovitch Raskólnikov, nosso angustiado criminoso, sofrido porque não se ajusta a si mesmo. Sofrido porque se culpa.

O vestibular da Fuvest é o mais prestigiado exame de acesso à universidade brasileira. É uma prova que exige maturidade, raciocínio, sensibilidade e rapidez daquele que pretende obter sucesso – ou seja, ingressar na USP. Não é fácil, como se sabe. Para muitos, é a elite universitária de um país que, aos poucos, vai descredibilizando o 3º grau, como se ele não fosse necessário ao mercado de trabalho. Uma tolice alimentada por aqueles que consideram a universidade um antro de cannabis, uma pocilga pornográfica da qual brotam vagabundos, belzebus e gente esquisita.

Sinceramente? É uma ousadia, a meu ver, selecionar Angústia no universo criado por Graciliano Ramos. Eu explico. O autor alagoano, célebre por representar o romance regionalista nascido a partir de 1930, dedicou boa parte de duas narrativas a expor o homem que vivia numa determinada condição – rústica, pobre, interiorana, provinciana, opressora -, apresentando seu modo de vida, as dificuldades oriundas de uma existência limitada, os desejos reprimidos e a inexorabilidade de um ambiente que deseja oprimi-lo. É assim em Caetés, em Vidas Secas e em São Bernardo, seus clássicos já citados.

Angústia acompanha os contos de Insônia (que não chega a ser um grande livro, a meu ver). É na cidade que a coisa se desenrola – a paixão, o crime, a criação literária, a frustração, o medo, as limitações. E, claro, a angústia, marcada justamente pela culpa e pela possibilidade de ser encarcerado, já que a personagem central – Luís da Silva – torna-se um assassino. É nesse ambiente, feito de pedra, concreto, repartições públicas, habitações suburbanas e cultura machista que Angústia dá os passos para se tornar uma obra-prima. Vale a leitura, caso você, leitor, não já a tenha realizado. Duvido.

Respostas ao DESAFIO do IPSIS LITTERIS

1) Da esquerda para a direita: Canhoto, Dino (por trás do Canhoto), Abel Ferreira, Elizeth Cardoso, Clementina de Jesus, Cartola, Pixinguinha e Jorge Marinho.

2) Henry Louis Mencken.

3) Joaquim Pedro de Andrade, Macunaíma.

Luiz Carlos Barreto, Dona Flor e seus dois maridos (por conta da maior bilheteria) e/ou O Quatrilho (indicado ao Oscar).

Leon Hirszman, Eles não usam black-tie.

Ressalte-se que a terceira pergunta não se refere à película de preferência de quem responde. É preciso que haja parâmetros para afirmar que obras são as mais importantes. No caso de Luiz Carlos Barreto, produtor de cinema, as obras Dona Flor…e O Quatrilho possuem parâmetros objetivos de classificação.

Dessa forma, aqueles que responderam aproximaram-se muito da resposta completa, mas, infelizmente, ninguém deu a resposta adequada. O prêmio acumula e será adicionado de mais itens para o próximo desafio, em dezembro.

Desafio do Ipsis Litteris

Mais um DESAFIO do Ipsis Litteris (o terceiro). O primeiro a acertar as 3 respostas – é necessário que sejam as 3! – ganhará os prêmios acima. Haverá somente 1 ganhador: aquele que responder primeiro, e enviar a resposta ao blogue. Os prêmios: 1 exemplar de Os Mamíferos – crônica biográfica de uma banda insular, de Francisco Grijó; 1 blu-ray Vinicius de Moraes e 1 exemplar do disco Cantando Vitória, de Pedro de Alcântara.

A duração do desafio: até terça-feira, dia 16, às 23h59! Caso ninguém acerte, a resposta será publicada neste horário. Boa sorte!

Eis as perguntas:

  1. Quem são as personagens na foto?

         2. Que crítico literário escreveu estas palavras sobre o romance Moby Dick?

        3. Qual a principal obra de cada um desses senhores destacados?

Amado há 110 anos

Jorge Amado teria feito, amanhã, 10 de agosto, 110 anos. É o grande contador de histórias deste país, a despeito de repetir-se em cenário – sua amada Bahia – ou de temática: os vilipendiados por uma sociedade branca, exploradora e desgraçadamente capitalista. Sua verve comunista, marcada por uma abissal indignação quanto às desigualdades de toda ordem, cedia espaço para a sensualidade feminina, para os exotismos do interior baiano, para o candomblé, para a cultura do cacau, para os desajustados sociais. Jorge Amado tinha imaginação, e partilhou-a sem qualquer limite com o leitor litorâneo e localizado, geograficamente, abaixo da fronteira baiana.

Li vários livros de Jorge Amado. Desde os preferidos por professores secundaristas – quando eu era aluno -, até aqueles considerados menos populares. Meu preferido, até hoje, é Tenda dos Milagres, um romance notável cheio de sensualidade e discussão acerca da mestiçagem brasileira. Citei-o, anteriormente. Seu herói, Pedro Archanjo é descrito como um Ojuobá (Olhos de Xangô). Jorge não era fácil: unir um arcanjo a uma entidade africana é adiantar o tema principal da obra. Isso sem contar do particular atletismo da personagem central que, lá pelas tantas, precisa vencer o capeta num ringue no mínimo singular: na cama.

Li Os Pastores da Noite, Os Velhos Marinheiros, O País do Carnaval, Jubiabá, Cacau, Suor, Capitães da Areia e, claro, encantei-me com Dona Flor, com Gabriela e com Tieta. Fiquei devendo – mas ainda pagarei a dívida – uma visita a Teresa Batista. Há uns 15 anos adquiri Navegação de Cabotagem, uma obra memorial cheia de pequenas boas histórias: situações, encontros, opiniões, lugares visitados, tributo aos amigos etc. Leio-a vagarosamente, contando as gotas. Quando fui empossado na Academia Espírito-santense de Letras, um amigo telefonou-me e perguntou, não sem certa ironia, se eu havia lido Farda Fardão Camisola de Dormir. Não, não li – ainda.

A Universidade, até onde sei, não aprecia muito Jorge Amado, já que ele não possui as ousadias transgressoras da modernidade, não é dado a novidades estruturais na narrativa, não se comunica muito com os europeus ou com norte-americanos de sua época. Seu diálogo é com seus pares nordestinos: José Lins, Graciliano, José Américo, Rachel. Escreveu para o leitor, queria-o cúmplice da história, quase um participante dela. Percebeu que aquele que lê precisa de atenção e de reverência. Isso não significa usar linguagem simplória ou temática banal. Jorge Amado soube fazer literatura de qualidade para ser lida por todos. Todos, mesmo.

O melhor do Jazz #10: trompetistas

Quem são os maiores trompetistas do jazz? Bem, cada um tem sua preferência – e eu me incluo nesse cada um. Essa série O Melhor do Jazz revela, é evidente, minha preferência. Já adianto que deixo de lado um jazzista hors concours (que, hoje, faria 121 anos): Louis Armstrong. Justifico: além de ser o “pai” de todos, foi – mais uma vez a meu ver – superior a outros trompetistas, independentemente da época. Fica de fora, então. Agora, meu top 5:

Dizzy Gillespie é um dos maiores nomes do jazz, considerado o criador do bepob, ao lado de Charlie Parker. Sendo seu fraseado constantemente inventivo, criou um vocabulário jazzístico próprio, muitas vezes sincopado. Foi virtuose, mas foi, também, vanguardista, ligando o jazz norte-americano à música caribenha – para horror dos puristas. É uma figura genial, um instrumentista de primeira linha, imitado, admirado, reconhecido. Sugestão: ouça Bird and Diz, AQUI. É um dos clássicos do jazz.

Miles Davis mudou o jazz três vezes. Criou o modal jazz, o cool jazz e o  jazz fusion. A despeito de concordar ou não comigo, é um nome fundamental do gênero. Sem sua liderança, não conheceríamos o melhor quinteto da história do jazz, nem o noneto que apresentou a conexão com a música clássica, nem a troca de beijos com o rock. Miles arregimentou músicos como ninguém fez, nem antes nem depois. Essencial! Sugestão: ouça, AQUI, ‘Round About Midnight, um dos grandes discos do quinteto de Miles, no qual brilhavam John Coltrane, Paul Chambers, Red Garland e Philly Joe Jones.

Miles Davis: ser ou não ser cool, eis a questão

Clifford Brown é, para muita gente, o melhor de todos os trompetistas. Tenho todos os discos dele pela Emarcy, e meu preferido é este AQUI. Sua morte prematura, aos 25 anos, contribuiu para a mística de que um substituto para Louis Armstrong havia deixado este mundo, embora tenham tido, ambos, diferentes estilos. A potência do sopro, as frases limpas e a força improvisativa eram suas marcas inequívocas. Um músico genial, que sobressaiu ao lado de um dos maiores bateristas de jazz de todos os tempos, Max Roach.

Clifford Brown Jazz Festival (Live Virtual Stream) - JazzBuffalo

Dentre os inúmeros discos de Lee Morgan que possuo, Leeway é o que mais me impressiona – e o primeiro que adquiri, no início dos anos 1990. AQUI você o ouve, inteirinho, em companhia de quem o projetou, Art Blakey, e de um dos ótimos pianistas do jazz, Bobby Timmons. Muito ligado ao blues, Lee Morgan criou uma forma muito particular de tocar: solos longos, bem articulados, claros, inspirados no som de seu primeiro professor, Clifford Brown. Lee morreu aos 33 anos, assassinado pela esposa.

Casamento, assassinato e heroína: o trágico conto do trompetista de jazz  Lee Morgan

Woody Shaw empatou com Fats Navarro, Donald Byrd, Freddie Hubbard e Clark Terry na escolha do quinto nome. Escolhi-o porque, ao ouvi-lo, lembro-me de dois outros grandes trompetistas (que não entraram na lista): os citados Navarro e Hubbard. Woody Shaw mistura a força improvisativa do primeiro e o suingue cerebral do segundo. AQUI um disco fabuloso, com standards do jazz, e em companhia do excelente pianista Cedar Walton.

Last studio recording of jazz trumpeter Woody Shaw released | PBS NewsHour

Próxima edição: os quintetos.

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