Corso herdeiro de Whitman

Dos beatniks gosto de Ferlinghetti (pela poesia ousada e pulsante) e de Kerouac porque todos gostam. Não há, a meu ver, nenhum grande poeta naquela geração. São essenciais muito mais pela atitude e pela transgressão do que pelo valor literário, pela poesia pujante. Lembro-me de ter conhecido Corso et alli ao ler Alma Beat, um volume de ensaios escritos por Antônio Bivar, Eduardo Bueno, , Pepe Escobar, Roberto Muggiati, Reinaldo Moraes, Leonardo Fróes e o excelente Cláudio Willer – que traduziu o sempre difícil Lautréamont. A edição saiu pela L&PM, em 1985.

Entre 1954 e 1957, Gregory Corso escreveu mais de cinco mil poemas, segundo seu amigo e mentor Allen Ginsberg, e a maioria não prestava, não tinha vigor literário, era um emaranhado confuso de referências culturais e experiências obtidas nos orfanatos pelos quais passou na infância – sem contar o tempo na prisão durante a adolescência. Talvez isso o credenciasse a participar daquele grupo que inevitavelmente se formava no fim dos anos 1950, e que se tornaria tão famoso quanto literariamente questionável: os beatniks. Com o tempo, seu verbo se tornou mais sólido, as imagens se organizaram e a notoriedade – ao menos naquele nicho jovem norte-americano – veio naturalmente.

Fazendo uma faxina em minhas estantes – a falta de espaço obriga-me a tal -, deparei-me com um exemplar de Gasolina & Lady Vestal, do dito cujo. Não é um grande livro – até porque não conheço um grande livro beat -, mas a cuidadosa tradução de Ciro Barroso tornou o livro palatável, legível e apreciado por quem gosta de uma linguagem direta, ácida, de poucos adjetivos e advérbios bem colocados. Corso escreveu um romance (o qual não pretendo ler, intitulado The American Express) e algumas peças teatrais – todas elas com a marca linguística de sua poesia. Há em Gregory Corso muito de Richard Brautigan, a quem admiro e sobre quem já escrevi.

Apesar de Brautigan, Gregory Corso é, na verdade, herdeiro linguístico de Whitman, embora não tenha a expressividade e a relevância desse enormíssimo poeta. Os versos longos, a ausência de rima e, principalmente, a temática do humano que não compreende bem por que seus pares caminham sem rumo fazem esse novaiorquino trazer à tona a conexão entre a sensibilidade e a desilusão – aliás, uma como consequência da outra. Vou relendo Gasolina & Lady Vestal até que consiga compreender o que a realidade expressa e significa. Mr. Corso talvez me mostre, tanto tempo depois.

Filmes (re)vistos #8: O Baile, 1983

Para muita gente, Grease – ou Nos Tempos da Brilhantina – é o melhor musical já feito. Inegavelmente simpático e uma estrondosa máquina de fazer dinheiro, o filme tem um trunfo: o rock, gênero que a juventude preza e consome. Escrevi sobre musicais: quem quiser pode verificar AQUI. Mas por que estou falando sobre essa vertente cinematográfica? Porque assisti, mais uma vez – dentre tantas -, ao filme O Baile, do italiano Ettore Scola – para mim, obra-prima, daquelas que quem ama o cinema precisa assistir diversas vezes. Tenha certeza: o cansaço passa longe.

O Baile - Cenas de Cinema - Crítica do filme - Clássico

O Baile é o que é: um baile – ou seja: um evento em que música e dança unem-se para para entreter quem por ali se encontra. No caso, o filme vai além, porque seu objetivo (se é que precisa ter um) é contar a história da França a partir da união entre as duas artes citadas, conectando-as a suas causas e consequências: a cultura, o costume, o tempo, a história. A ousadia da película reside no fato de que palavras não são tão necessárias à comunicação. Música, gestos, comportamento e talento para unir tudo isso, sim.

O filme fará quarenta anos em dezembro – data de seu lançamento. Scola é craque: fez Nós que nos amávamos tanto e Feios, sujos e malvados. Só isso já lhe justificaria a celebridade, e seria suficiente para que não se sentisse na obrigação de dirigir a ótima comédia O Jantar. Voltemos, pois, ao baile. Há quem diga que, sem palavras, é impossível contar uma história. Balela de diletante, claro. Ettore Scola parte da ideia do contrário, transformando em narrador a combinação de cenário, vestimenta, gesto, expressões faciais e, claro, música. Sem legendas – porque elas são, aqui, desnecessárias -, a narrativa funciona: é poética, é engraçada, emotiva.

Cinco filmes para conhecer Ettore Scola | GZH

As referências culturais, sublinhadas pela coreografia e pelos variados gêneros musicais, são expostas como um banquete sobre a mesa: todas as iguarias juntas, mas é possível eleger aquela que mais agrada, que mais se destina ao espectador que, tenha certeza, participa, a seu modo, da atmosfera que a música e o movimento provocam. Nem tudo é alegria, claro. Por exemplo: uma das cenas mais tocantes da película é o repúdio do(a)s dançarino(a)s – que batem os pés no assoalho, repetidamente – a um personagem vestido de preto (cicatriz num dos olhos), que levanta a mão numa menção ao nazismo. Eis a resistência. Esse é Scola.

A propósito: é possível assistir ao filme AQUI.

Eu & Os Titãs

Qual o ponto alto de um show de rock? Quando o guitarrista ataca um solo monumental, daqueles que ninguém imita? Quando o vocalista, qual um tenor de ópera, arrisca um dó de peito e acerta em cheio? Naquele momento em que o baterista, à moda de Keith Moon, faz o instrumento eternizar-se? Cada espectador, claro, escolhe o momento primordial, inesquecível. Eu, por exemplo, escolhi – durante a apresentação da banda Titãs, em Vitória, ES, no último fim de semana – o instante em que Charles Gavin, batera do grupo, surrou os couros vestindo a camisa do meu time do coração, o doméstico Rio Branco.

Não sou um fã dos Titãs. A bem da verdade, quando surgiram, inaugurando, junto a outras bandas, o movimento BRock, no início dos anos 1980, não fui na onda. Embora gozando os meus 20 anos, mantive-me no gênero que havia me capturado (3 anos antes): a MPB. Chico Buarque, Gil, Caetano, a dupla Toquinho & Vinicius, Tom Jobim e Belchior valiam muito mais do que Renato Russo, Cazuza, Arnaldo Antunes e Nando Reis. Sim, claro, era – e ainda é – uma opinião. A bem de uma outra verdade: abstive-me da contemporaneidade, desconfiei da “revolução musical” que encheu o coração da juventude brasileira. Ignorei o movimento em si. Eu e minha senectude, disse-me uma amiga, certa vez.

Por curiosidade: ouvi a banda com bons ouvidos a partir do início dos anos 2000. Minha mulher – namorada, à época – apresentou-me a banda e, claro, a forma apaixonada como ela consumia música & letras contagiou-me – num certo sentido. Não, não foi suficiente para eu me tornar um ardoroso entusiasta, mas amoleceu meu coração. O show foi bacana – muito mais por resumir uma carreira de sucesso e trazer à superfície a memória afetiva de uma plateia que ali estava justamente para isto: lembrar-se de momentos vividos à custa das canções. E, evidentemente, emocionar-se.

Por falar em emoção, a homenagem ao falecido guitarrista Marcelo Fromer – sua filha Alice subiu ao palco, e cantou -, e ouvir Branco Mello cantar (vítima que foi de um tumor na laringe) deram o tom sentimental – mas nem de longe piegas – ao encontro de artistas que, marcados pela honestidade musical e pela satisfação inequívoca de fazer um bom trabalho, tornaram o público feliz por 140 minutos. Sim, repito: foi um show bacana: não me arrependo de ter ido. Não chegarei a me tornar fã ou consumidor, mas valeu ter testemunhado a História. Valeu, Titãs! E valeu, Charles, por vestir a camisa do meu time.

Sem Jeff, sem música

Jeff Beck nasceu pronto – mas por que digo isso? Porque aos 20 anos substituiu Eric Clapton como guitarrista dos Yardbirds. Se você gosta de rock, entendeu o porquê. Caso não, lá vai: somente um guitarrista pronto, sem necessidade de nada que se acrescente a seu talento ou performance, seria capaz de substituir um dos maiores guitarristas de todas as épocas. Jeff nunca teve – é o que me parece – o reconhecimento pleno. É um dos ases do gênero, mas sua popularidade (se é que precisou de uma) sempre esteve na corda-bamba. E daí? Quem curte a grande música sabe quem ele é – e ponto.

Aos 78 anos, morre Jeff Beck, um dos mais influentes guitarristas da  história - ISTOÉ Independente

Em 1986, ganhei, não me lembro de quem, o elepê Wired, gravado dez anos antes do meu privilégio de ouvi-lo. Ouvinte de jazz, lembro-me de ter estranhado a gravação de Goobye Pork Pie Hat, escrita por Charles Mingus, o grande orquestrador, band-leader e maior contrabaixista do jazz. Você pode ouvir AQUI. Não consegui, exceto por algumas passagens bem breves, encontrar semelhanças com o original jazzístico. Só isso – que não é, nem de longe, um detalhe – já me fez apreciar aquele de quem eu compraria, quase imediatamente (creio que poucos dias depois), outro elepê: Blow by Blow, um clássico em que as homenagens ao jazz continuam: há uma faixa, escrita por Stevie Wonder, intitulada Thelonius. Ah, claro: o próprio Stevie participa da faixa, nos teclados.

Blow By Blow [Disco de Vinil] | Amazon.com.br

Por falar em teclado, Jeff e Max Middleton, tecladista, compuseram You Know What I Mean, Air Blower e Scatterbrain. Middleton, sozinho, escreveu Freeway Jam. A propósito: se você gosta dos Beatles, vai apreciar She’s a Woman: uma beleza de execução. A guitarra fala, literalmente. Bem, ouça o disco, por inteiro, AQUI. Vai gostar.

Antes de escrever este texto, fiquei pensando quantos discos dele eu possuía. Não são muitos: Truth, Wired, Blow by Blow, Flash, Crazy Legs e Emotion & Commotion (do qual não gosto), que foi lançado no dia em que completei 48 anos, num 13 de abril. Jeff Beck morreu anteontem, dia 10 de janeiro, aos 78 anos, vítima de meningite. Continuava na ativa, mantendo agenda de shows (inclusive em companhia do ator-músico Johnny Depp) e, algo tristemente irônico, cuidando da saúde. Uma tristeza para o rock; outra para a música.

Fama Volat, in English (e alguns advérbios em português)

Meu romance policial Fama Volat tem edição em inglês, vertida para a língua de Vonnegut por minha filha, Júlia Grijó. Está disponível na Amazon, de graça, para quem baixar no Kindle. É só clicar AQUI. Se quiser em paperbeck, clique AQUI.

Escrever em inglês não é para todos – e não é para mim, de modo que precisei de alguém especializado para a versão. Em português, língua pátria, você (ainda) encontra exemplares para a venda na loja da editora Cândida. AQUI, então. Fama Volat, como eu disse, é um romance policial. É ambientado em Vitória, ES, e conecta-se ao estranho porém charmoso mundo das artes. O título refere-se a um grupo seleto e secreto que comercializa, em nível global, e clandestinamente, itens raros.

Há assassinatos no livro, bem como detetives, investigações e advogados. É um quase típico exemplo do gênero. Eu disse quase porque você precisa ler para entender por que usei esse advérbio. Enfim, se puder – e espero que possa! -, leia! E antes que eu me esqueça: Fama Volat conecta-se a um outro livro meu, que foi relançado recentemente, intitulado Histórias Curtas para Mariana M. Foi publicado originalmente em 2009. Você pode se informar AQUI. É a apresentação do livro, escrita por mim.

Creio que já tenha falado o suficiente. Os livros falam por mim – ou, ao menos, deveriam fazê-lo. Para conhecer meus outros livros, nem precisa sair do blogue. É só clicar lá em cima, em O CHEFÃO. Ou em BOOKS, se quiser ler em inglês. By the way, é uma ótima opção para leitura de férias. Em minha modestíssima opinião, pelo menos.

Minha Mariana, de novo

Histórias Curtas para Mariana M, meu segundo romance, publicado em 2009, tem uma nova edição. Há 14 anos, ainda relutando sobre a hipótese de o livro ser ou não ser literatura policial, optei pela ideia de que todo o romance era apenas uma história de amor. Um homem – um dos narradores da história – está à morte e o pretexto para adiá-la é contar histórias para a Mariana do título. Histórias policiais precisam de cumprir algumas exigências – uma delas, a principal, é um crime ter sido cometido. Falei o óbvio.

Meu amigo e ídolo literário Luiz Guilherme Santos Neves (o melhor escritor do ES, em minha opinião) abrilhantou a primeira edição com uma generosíssima orelha. Van Gogh não faria melhor. Segundo Luís, Histórias Curtas para Mariana M é, além de um romance, um ensaio sobre literatura policial. Pode ser lido por esse viés, mas só percebi isso após ter lido o que ele escreveu. É assim mesmo: assim como o cônjuge traído, o autor nunca é o primeiro a saber. Pois bem: a editora Cândida refez o livro. Não seu conteúdo, mas sua forma. Deu à obra uma capa. Ei-la:

Histórias curtas para Mariana M - Cândida Virtual

Por conta de atrasos na entrega do livro – a gráfica assumiu a responsabilidade -, a nova edição terá seu devido relançamento: possivelmente em fevereiro/2023. Você – que está lendo – pode, contudo, adquirir o livro, que está em pré-venda, pela Editora Cândida. Eis o endereço: www.loja.editoracandida.com.br

Editora Cândida

A eternidade do ídolo

Retomando uma antiga demanda: aproveitando que estamos em tempos de Copa do Mundo, vou falar sobre algo que não seja cultura e arte. Bem, o esporte – especificamente o futebol – preenche a lacuna que alguns de meus 6 ou 7 leitores dizem existir. Talvez estejam certos. Pela terceira ou quarta vez, aqui neste blogue, falo de um de meus ídolos: Pelé, a quem vi jogar nos últimos 5 anos de carreira. Da carreira dele, bem entendido. A foto abaixo traz Pelé aos 18 anos, ao lado do maior jogador (ou um  dos maiores) que a Argentina produziu: Alfredo Di Stéfano.

Pelé e Di Stefano. Os reis se encontraram apenas uma vez, há 60 anos - UOL  Esporte

Num jogo em homenagem ao espanhol Miguel Muñoz – o primeiro capitão do Real Madri a levantar a taça da Liga dos Campeões -, o time espanhol levou a melhor: 5 a 3. Consta que o argentino não marcou gols, enquanto o ainda menino Pelé fez o dele. O que mais me chamou a atenção foi o fato de que, no ano anterior, Pelé havia-se tornado famoso por conta da Copa da Suécia, mas o time do Santos, uma máquina demolidora de gols, só se tornaria (re)conhecido mundialmente no início dos anos 1960 – e justamente por conta daquele que mais tarde seria eternizado como rei.

Leio que Pelé não está bem de saúde. Há, de parte de muitos, aquela sensação de que os ídolos são inatingíveis, que não se sujeitam àquilo que nós – os outros – temos como quotidiano, de comum e banal. Lembro-me de um amigo, fã de boxe como eu, que se recusava a reconhecer Muhammad Ali (ou Cassius Clay, como querem alguns) como alguém capaz de se ajoelhar diante da doença. Muhammad foi-se, mas ficou – e eternizado na memória como um homem saudável que destroçava seus oponentes.

Creio que com Pelé, e com alguns outros ídolos de qualquer esporte, acontecerá o mesmo. A imagem do menino ao lado de Di Stéfano ficará, memorial, para muitos. Para mim, que passei a apreciar o futebol por conta da Copa de 1970, Pelé era aquele que, na foto emblemática e conhecida em todo o mundo, representava a alegria da vitória, o prazer de jogar futebol e, como a cena retratada, tornar-se o ídolo eterno.

Curiosidades das Copas: fazer gol em duas finais, um feito de poucos |  LANCE!

AQUI o filme Isto é Pelé, de 1971. AQUI o filme oficial da FIFA – Copa do Mundo de 1970. AQUI o filme O Rei Pelé, de 1962. AQUI, Pelé Eterno, de 2004. AQUI, o documentário Um Rei desconhecido.

O melhor do Jazz #11: os quintetos

O quinteto é a formação clássica do jazz: saxofone, trompete, piano, baixo e bateria. Há quem prefira um grupo com apenas um sopro, concentrando as atenções nos fraseados enquanto o piano estabelece a harmonia e a dupla baixo-bateria cozinha o alimento que é servido. Quais os grandes quintetos do jazz? Mais uma vez uma lista que revela a gosto pessoal deste que vos escreve.

Charlie Chan (5) • Dizzy Gillespie • Bud Powell • Max Roach • Charlie  Mingus - Jazz At Massey Hall (Vinyl, LP, Album, STEREO - Amazon.com MusicNa verdade, este quinteto não deveria entrar na lista, afinal não foi uma reunião sistemática de cinco músicos, que tivessem feito vários discos etc. Mas é um quinteto e é o melhor disco de jazz que conheço. Eu já disse isso. Por que melhor? Bem, reuniu ninguém menos que Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Bud Powell, Charles Mingus e Max Roach. Ou seja: ao menos 4 desse grupo são os melhores em sua especialidade. Ouça o disco AQUI, para comprovar. Gravado no Massey Hall canadense, em maio de 1953.

Workin with Miles Davis Quintet | Amazon.com.brO segundo lugar não poderia deixar de ser do quinteto de Miles Davis – aquele, nascido em 1955 e desfeito em 1959, com variações ao piano e a adição do sax alto. O time básico: Miles Davis (trompete), John Coltrane (sax tenor), Red Garland (piano), Paul Chambers (baixo) e Philly Joe Jones (bateria). A série de discos Relaxin’, Cookin‘, Workin‘ e Steamin’ é de fazer chorar. No bom sentido, claro. Eis o melhor: Workin with the Miles Davis Quintet: AQUI.

Charlie Parker foi o maior raciocínio do sax alto e, para muitos críticos e estudiosos do jazz, o maior de todos os saxofonistas. Genial em todos os estilos, fez-se acompanhar de um timaço de músicos no coração dos anos 1940: Duke Jordan ao piano; Tommy Potter no baixo; o sempre magnífico Max Roach na bateria. E quem, no trompete? Sim, Miles Davis que, segundo suas próprias palavras, aprendeu jazz com Bird. Ouça, AQUI, Bluebird, o disco na ilustração.

Serenade to a Bus Seat - WikipediaClark Terry não entrou na lista de trompetistas favoritos, mas entra aqui, com seu quinteto. Veja só: Johnny Griffin, no sax tenor; Wynton Kelly ao piano; Paul Chambers no baixo, e Philly Joe Jones nos couros. Onde vc já viu parte dessa sessão rítmica? Com Miles Davis em seus ótimos dias. Timaço. Um extraordinário quinteto. Esse disco, Serenade to a bus seat é de se ouvir agradecendo a Deus por seus tímpanos funcionarem. AQUI você inicia o agradecimento.

Moanin' (Art Blakey).jpgDe todas as formações que conheço do Art Blakey and the jazz messengers, esta é a melhor: Lee Morgan (trompete), Bobby Timmons (piano), Benny Golson (sax tenor), Jymie Merritt (contrabaixo) e, claro, o líder, Art Blakey, na bateria. Um disco sem erro protagonizado por um quinteto absolutamente perfeito. Uma atenção especialíssima ao som de Timmons, um dos grandes pianistas que o jazz produziu. Ouça tudo, AQUI.

FECHADO para BALANÇO

23 fotos antiguas que muestran cómo era la diversión de verano antes del  Internet | HuffPost Voices

Dando um tempo nas postagens: em NOVEMBRO voltaremos. Por enquanto, regozijem-se com postagens recentes e remotas. Há muito sobre música, literatura, cinema, quadrinhos, desenho, fotografia, arte em geral. É só clicar nas tags, na coluna da direita. Espero que aproveitem!!!

Carson McCullers revisitada

Gosta de ver Marlon Brando em ação?  E Elizabeth Taylor, tão bela que chega a doer os olhos? E os dois juntos, num filme dirigido por John Huston? Pois é: essa situação existe, e se chama – no Brasil – O Pecado de todos nós, um ótimo filme cuja temática gira entre homossexualidade reprimida, frustração no casamento e militarismo. No original, o título é Reflexo num olho dourado, e é baseado no romance homônimo de uma escritora pouco celebrada no Brasil, Carson McCullers. Uma cena congelada do filme:

Reflections in a Golden Eye: a “hothouse tale” of desire and simmering  violence | Library of America

Não é, entretanto, sobre a película que quero falar, mas sobre Carson McCullers, essa extraordinária escritora que morreu há exatos 55 anos, e que escreveu ao menos duas obras-primas: A Balada do Café Triste e O Coração é um caçador solitário, ambas lidas por este que vos fala no final dos anos 1980, quando eu ainda não tinha a certeza de se havia ou não melhor literatura, no século XX, do que a norte-americana. Hoje, tenho: não há, mas isso é apenas uma opinião. Ei-la:

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Livro: O Coração é um Caçador Solitário - Carson Mccullers | Estante VirtualSou fã da criatividade na estrutura textual – desde que não desprivilegie a história. Em O Coração…, cada capítulo traz o ponto de vista de um personagem diferente, embora o centro de tudo seja a personagem central: um homem surdo-mudo cujo nome é marcado pela ironia: John Singer. É visto como símbolo da beatitude numa cidade do interior, em que alguns selecionados moradores têm suas vidas expostas com habilidade ímpar pelo talento de McCullers. Um livro imenso, um texto que deveria ser obrigatório a todos aqueles que amam (ou dizem amar) a literatura. Há um filme – a que não assisti – baseado nele.

A Balada Do Cafe Triste - 9788525010261 - Livros na Amazon BrasilA Balada do Café Triste é um volume de contos. Na verdade, o conto-título é uma noveleta cujo tema é um triângulo amoroso composto por 3 figuras marginais: um anão, uma esposa abandonada e seu ex-marido, que retorna à cidadezinha para perturbar a vida de todos. Contos como Wunderkind, O Transeunte e Um Dilema Doméstico são pequenas obras-primas de leitura fácil, justamente porque deve ter dado um trabalho danado escrevê-las. Se puder, leia tudo – e de uma tacada. Para ficar, na memória, com o gosto de Carson McCullers durante um bom tempo. AQUI você lê a noveleta no original.

P.S. Há também um filme baseado nesse livro. Vanessa Redgrave brilha nele. Ao contrário do filme O Coração é um caçador solitário, esse eu vi.

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