“‘Diverti-me como uma louca!’, disse Mona Lisa com sua voz de falsete, e diante dela, reverenciosos, os imbecis se extasiaram num coro de rãs boquiabertas. Seu riso dominava os salões do palácio como o jorro solitário duma fonte insensata. (Aquela noite em que as águas da amargura me penetraram até os ossos.) ‘Diverti-me como uma louca!’ Eu assistia à reunião como representante do espírito e a cada momento recebia parabéns, apertos de mão, oferecimentos de caviar e cigarros, previa a exibição das minhas credenciais. (Na verdade eu tinha ido somente para ver a Mona Lisa). ‘Que é que você está pintando agora?’ Os monstros de brocardo e pedraria pervagavam no aquário de fumaça, de mirto venenoso e gorjeios. Cego de raiva e fazendo com que minhas lanternas de fósforos brilhassem na sombra, pensei atrair Mona Lisa para as grandes profundidades. Mas ela só sabia morder anzóis superficiais (…)”
Cocktail Party, Juan José Arreola