Recebi um mail de um leitor deste blogue. Um dos seis ou sete. Reclamou que tenho dado pouca atenção a “um espaço tão criativo”. As aspas existem porque são palavras dele; não minhas, embora eu as tenha recebido de ouvidos, olhos e braços abertos. Tenho tido pouco tempo, e também pouco assunto que a mim interesse expor neste espaço. Hoje pela manhã, ao contrário, veio-me o desejo incontido de escrever sobre Alberto Ginastera, o grande compositor argentino. Mais do que grande – enormíssimo. Provavelmente o maior de todos, embora seja bem menos conhecido que Piazzolla, por exemplo. É natural. Tom Jobim, genial, é mais conhecido que nosso maior compositor, Villa-Lobos. Mas quero falar de Ginastera, este senhor aí abaixo, com o gato.
Ouvi, pela manhã, toda a sua produção para piano e violoncelo, através do norte-americano Mark Kosower, no cello, e da coreana Jee-Won Oh, uma pianista de primeira. Não é música fácil, melodiosa, que nos faz assobiar quando dela lembramos. Sendo Ginastera um compositor formado no século XX, não fugiu aos arroubos modernos e às rupturas tão necessárias quanto costumeiras. Talvez aí resida a dificuldade em tornar-se popular aos ouvidos menos exigentes. Foi um nacionalista que soube criar além do que se propunha: beber na fonte do folclore nativo, da cultura doméstica. É querido por muitos intérpretes internacionais justamente por isso.
Há quem queira comparar Alberto Ginastera com Heitor Villa-Lobos. Não entro nessa. Tinham visões de mundo diferentes – e concebiam sua arte também de forma distinta. Ginastera era um obsessivo, um preciosista. Villa era mais displicente. Um gênio absoluto, que abominava revisar a própria obra antes de publicá-la. Paro por aqui. O disco em questão, cuja capa está aí ao lado, traz doze faixas. Atenção especialíssima para Cinco Canciones Populares Argentinas: um primor, acentuado pela habilidade sem equívocos dos dois músicos, excepcionalmente bem sintonizados. O Gato, por exemplo, é de aplaudir durante meia hora, sem intervalos. E olhe que tem pouco mais de 2 minutos de duração. Ah, você se curvará diante de Wayno Karnavalito, uma homenagem ao maestro suíço Paul Sacher.
Ginastera fez bonito. Tem muita coisa de valor: em particular Popol Vuh – A criação do mundo vista pelos maias. Uma obra-prima sem rivais ou paralelos na América Latina. Vale conferir AQUI. Essa mesma gravadora, com sede em Hong Kong, traz até nós quase toda a obra do argentino, de modo que está acessível a quem se interessar. Alberto Ginastera vale a pena. AQUI, o Concerto para Violino e Orquestra, que veio ao mundo exatamente no dia em que completei 1 ano de vida.