Carlos Latuff faz 50 anos, hoje. Pode ser que você, leitor, não saiba de quem estou falando. É possível – mas não provável. Para que não haja dúvidas, lá vai o resumo: Carlos Latuff é um chargista, um desenhista de primeira linha, mas se engana quem pensa que é um artista da forma. Não é. Latuff preocupa-se muito mais com o conteúdo do que com o apuro gráfico em si. A beleza dos traços e a composição cromática são elementos secundários, mas não prescindíveis.
Ativista político, Latuff golpeia de forma inclemente (as duras ironias são sua arma mais poderosa) o poder autoritário, a política injusta, as sociedades totalitárias, a violência, os mecanismos de controle, a mídia manipuladora – enfim, é um inimigo do establishment. Eis um exemplo que, para mim, é definitivo, numa charge de 10 anos atrás:
Eu não conhecia seu trabalho. Tive contato há pouco mais de 10 anos, quando, correndo a internet, deparei-me com uma charge que denunciava os horrores que Israel impõe ao povo palestino. Aliás, essa é a grande causa de Carlos Latuff, e que, de imediato, adquiriu minha simpatia. Embora eu não seja um antissionista, gravito sempre para o lado do mais fraco – no caso, os palestinos.
Muitos de seus desenhos e charges correm o mundo. E muitos deles, marcados pelo tom doméstico, fazem-nos ver a duríssima realidade em que nos encontramos. O quadro abaixo não faz referência direta a uma pessoa – mas é algo bem brasileiro. O homem negro, crucificado, longe de representar Jesus, é o homem comum da periferia, vítima da polícia truculenta, cruel e sem limites. Há uma polêmica acerca desse quadro.
Não pense, entretanto, que ele seja um artista a serviço desse ou daquele partido, dessa ou daquela ideologia. Em tempos atuais, é comum que se pense assim, de forma polarizada. Parece-me, ao que posso perceber acompanhando seu trabalho, que sua preocupação maior é o humanismo. Denunciar as atrocidades que o homem submete a outro homem é, em seu trabalho, o ponto nevrálgico, a obsessão maior. Fez várias charges contra o presidente eleito. Uma delas, excelente, é também uma crítica a seus seguidores:
Antes de qualquer conclusão precipitada, entretanto, observe a charge abaixo, de 2012:
Se você não o conhecia, este post fez-lhe um serviço social. A partir de agora, é com você. Aproveite, porque há muito o que aproveitar! Há muito mais de Carlos Latuff por aí.