No início deste último fevereiro, ainda curtindo o que me restava de férias, estive na cidade portuguesa do Porto, local agradável, com muita história para contar e cultura para esbanjar. Desde muito alimentava o desejo de ir à famosa livraria Lello & Irmão, um espaço localizado numa ladeira, com porta central estreita e um valor histórico absolutamente imensurável. Tenho um dicionário enciclopédico, em 3 volumes, dessa editora, adquirido por meu pai em 1967. Guardo com tanto carinho quanto zelo. Mas não é exatamente sobre o vigor intelectual de uma livraria histórica que quero falar.
Não sei se vocês sabem – eu não sabia! -, mas J. K. Rowling, a milionária escritora inglesa mãe de Harry Potter, viveu um tempo em Portugal – mais especificamente na cidade do Porto, onde se localiza a Lello. Segundo se diz, era frequentadora do espaço e levou parte da estrutura da livraria para o universo mágico de Haroldinho. Sob sugestão de minha filha mais velha, li um dos livros da saga. Isso faz quase 20 anos. Não é grande literatura, mas diverte – e muito – o público adolescente. Divertiu-me também. Eis a questão. O que Haroldinho e sua turma fizeram pela Lello & Irmão? Já vou dizer.
Conversando com um sociólogo de 60 anos, nascido e criado no Porto, a Lello & Irmão estava mal das pernas. A maioria das livrarias do mundo está nessa condição. Contou-me que se comentava na cidade sobre o fechamento do histórico estabelecimento. Os intelectuais, professores e artistas preocupavam-se com o que consideravam vilipêndio cultural. Pois é. As pessoas não compravam mais livros, a livraria mantinha clientes, mas esses já não compravam o suficiente para mantê-la de pé. Veio então a notícia de que J. K. Rowling usara a Lello & Irmão como inspiração para a imaginária Flourish and Blotts, onde os pequenos feiticeiros compram suas específicas literaturas.
A coisa explodiu. A Lello passou a ser visitada por gente de todas as idades, principalmente por aqueles que consideram o Youtube e as redes sociais muito mais funcionais do que os livros. A garotada era compradora? Não, mas queria pisar as famosas escadas da livraria, mencionadas nos romances de Haroldinho. O que fizeram os gestores da Lello & Irmão? Estabeleceram um bilhete de acesso no valor de 5 euros. Caso alguém compre um livro, o valor é descontado nessa compra. Boa sacada!
No fim das contas, o feiticeiro Haroldinho fez um bem aos livros, fez bem à Lello & Irmão, e de quebra se tornou personagem desta postagem. Quem poderia dizer que essa fase da vida, tão mal vista pelos intelectuais mas cobiçada pelo mercado de entretenimento, seria capaz de catapultar a importância de uma livraria de 114 anos? Pois é. Haroldinho pode ajudar, não importa onde esteja. Se você ainda não conhece a Lello & Irmão, comece por AQUI.