Assisti há pouco, na tevê fechada, a uma entrevista com Woody Allen na qual ele afirma – dentre outros assuntos – que assistiu ao filme 2001 Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick, 3 vezes, até gostar dele. Faço cá uma conta: considerando que Mr. Allen nasceu em 1935, e considerando ainda mais que ele assistiu à famosa película assim que foi lançada, em 1968, é possível dizer que o cineasta novaiorquino já era um homem maduro quando afirmou que a referida obra-prima da ficção-científica não caiu em suas graças. Woody Allen tinha, na ocasião, 33 anos e já havia escrito duas peças teatrais e um filme bem interessante, a comédia O que há, Tigresa?, sem contar os oito anos como comedienne.
Aonde quero chegar? Sempre digo a meus alunos que a Arte com A maiúsculo é aquela que, quanto mais amadurecemos intelectual e cronologicamente, mais somos capazes de perceber sua riqueza, de identificar elementos que, anteriormente, haviam-nos passado despercebidos. Ou seja: consumir uma sinfonia de Haydn aos 20 anos é diferente de consumi-la aos 40, desde que o ouvinte, claro, esteja disposto, nessa lacuna de 240 meses, a evoluir intelectualmente. Pode-se dizer, evidentemente, que a obra de Arte modificou-se – ao menos para esse consumidor. Bonito, não?
E quando acontece o contrário? O consumidor evolui e a obra de arte continua a mesma? Por exemplo: aos 17 anos é possível admirar, com todo aquele fervor adolescente, um determinado artista e sua produção, e alguns anos mais tarde, por conta do inevitável amadurecimento, perceber que esse artista continua a produzir conteúdo dirigido a indivíduos entre 12 e 17 anos. Não chega a ser um pecado, afinal pode ser essa a proposta desse artista. Mas qual será a decepção desse consumidor que espera evolução também por parte do ídolo a quem tanto admirava!
Só para ilustrar: dia desses encontrei um ex-aluno de quem fui professor no primeiro ano da década de 1990. Hoje tem 45, 46 anos, por aí. Num bate-papo amigável, ele trouxe à memória algo que vaticinei, quando ele, à época, dizia-se imenso fã da simpática banda pop Capital Inicial. Segundo ele, eu afirmei que, quando ele chegasse aos 30, o vocalista Dinho Ouro Preto e cia. seriam apenas memória: ele se lembraria de algumas canções, mas elas já não seriam mais parte de sua vida. Perguntei a ele se meu vaticínio se confirmara. Ele disse – senti certo desapontamento em sua resposta – que sim. Pois é. Modificamo-nos, com o tempo. A obra de arte também, a depender de nossa interpretação.