Amanhã é dia 10 de junho e a morte de Rosinha de Valença atingirá a maioridade. Em 1992, após ter sofrido uma parada cardíaca que lhe corrompeu o cérebro, entrou em coma e de lá não saiu mais: morreu em 2004, após 12 anos de estado vegetativo. O Brasil perdera sua melhor violonista, uma virtuose que havia batalhado imensamente pela valorização da música instrumental no Brasil. Genial ao violão, rivalizava com Baden Powell, o grão-vizir do instrumento e, justamente com ele, iniciou um movimento que deu origem a vários grupos musicais que fundiram jazz e bossa.
Gosto muitíssimo de Ipanema Beat, seu disco de 1970. É obra-prima pouco (re)conhecida neste país que valoriza gente que não mereceria respirar o ar que ela respirou. Um timaço de músicos divertindo-se tocando temas estrangeiros – pérolas de Joe Zawinul, Jimmy Smith, Serge Gainsburg, Keith Reid e outros – e uma gema de próprio punho: Rosinhas’s Mood. Se você quer ouvir o disco inteiro, AQUI está. Preste atenção ao organista Duncan Makay. E, claro – e principalmente -, a Rosinha de Valença.
Outro disco que aprecio bastante é um show ao vivo ao lado do acordeonista Sivuca. Gravação do projeto Seis e Meia, os dois artistas se apresentaram no Teatro João Caetano, em 1977. Com produção de Sérgio Cabral, ainda contava com a participação especialíssima do saxofonista Raul Mascarenhas – que também tocou flauta. Lamentos, de Pixinguinha, e Asa Branca, de Gonzaga e H. Teixeira, são os pontos altíssimos de um encontro de pontos altos. Ouça AQUI o disco na íntegra.
Rosinha de Valença foi reconhecida internacionalmente: Henry Mancini, Bud Shank, Stan Getz e Sarah Vaughan (só para citar alguns) admiravam sua habilidade com as cordas. Apresentou-se em vários países de pelo menos 4 continentes, explorando a brasilidade e ao mesmo tempo o cosmopolitismo de sua música, repleta de ousadias, inventividades e, claro, perfeição instrumental. Não me recordo de nenhuma mulher que, ao violão, encantasse mais. Homem, talvez – mas ainda prefiro Rosinha. Que esteja sempre em paz, como ficamos nós – ao ouvi-la.