Mais livros, mais música.
Maynard Solomon é um craque, um ás. Escreve para quem conhece o assunto com profundidade; escreve para quem é leigo e se interessa por aquilo que ele fala: música clássica. Conheço poucos com essa habilidade, porque ambos – o conhecedor e o ignorante interessado -, para ele, têm a mesma importância, já que se nutrem da mesma matéria, cada um a seu modo. E de qual matéria eu falo? De Ludwig van Beethoven, um dos mais importantes nomes da música em qualquer época. Para muitos, o maior.
Acabei de ler a biografia do grande homem escrita por Solomon. É um assombro. Um trabalho cirúrgico sobre a amplidão de uma obra sem limites: as influências, a vaidade, a surdez, a bajulação, a saúde débil. O Beethoven despótico, o incompreendido, o arrogante. O Beethoven absolutamente genial que, quando queria, era incomparável, senhor absoluto do elemento musical. Claro: há um capítulo sobre o tema amoroso e, evidentemente, a Amada Imortal dá o ar da graça. Há também os relatos absolutamente saborosos das circunstâncias que levaram o gênio a compor determinadas peças musicais. É de não querer parar de ler.
Iniciei, neste mesmo dia em que escrevo este texto, a releitura de 48 variações sobre Bach, de Franz Rueb. Li-o quando veio a público, há 21 anos. É biografia estilosa, diferente de tudo o que já li (ou reli), traduzido numa narrativa incomum. Rueb é suíço, dedica-se à música desde a adolescência e ele mesmo sabia que ouvir Bach aos dezoito anos é diferente de ouvi-lo 40 anos depois. Essa é a premissa: Bach varia, modifica-se para melhor, sempre. E essa variação estende-se à própria concepção do Kantor.
Há o Bach religioso, luterano; há o Bach iluminista, algébrico, pensador. Franz Rueb analisa os dois de forma descontraída, com linguagem acessível – um tanto distinta daquela de Solomon – e simples. As Variações Goldberg, mote para o livro, são, originalmente, um exercício para teclado: repetições necessárias com sutis modificações. O livro é isso. Bach, único, torna-se variável em vida, obra, realizações, sentimentos, pessoas. Nada mais óbvio, nada mais inventivo. Vale a leitura.