Arrepio-me quando ouço alguém afirmar que somente o que foi feito “em minha época” tem valor. É a balela dos maus saudosistas, dos serôdios inconformados – e muito frequentemente de pessoas que, sabe-se lá o motivo, repulsam as novidades. Já fiz isso, e talvez um mea culpa se faça necessário. Isso é papo para divã, para confessionário, não para este blogue nem para esta postagem, que é dedicada a um dos maiores bateristas do jazz: Elvin Jones.
Pois é: Mr. Jones tocou com gente tão importante quanto ele: o contrabaixista e orquestrador Charles Mingus, com os saxofonistas Sonny Rollins e Stan Getz, com Miles Davis e com os extraordinários pianistas Bill Evans e Bud Powell. E muito mais gente boa. Claro, claro: fez parte do mitológico quarteto de John Coltrane, no qual brilhou em My Favorite Things, Olé e A Love Supreme, e com quem gravou 20 discos. Clique nos títulos para ouvir o disco completo, mas preste atenção ao que Elvin Jones faz. Prestou? Pois é.
E eis que o propósito desta postagem se expõe: o disco Young Blood faz jus ao título. Elvin Jones, já consagrado, resolveu arregimentar novos talentos no jazz: o saxofonista Joshua Redman e Javon Jackson tinham, respectivamente, 31 anos e 26 anos; o trompetista Nicholas Payton, com 19 anos; e a exceção checa: George Mraz, aos 47 anos. Elvin Jones tinha, então, 64: era o idoso que atacava os couros como um adolescente inquieto, pleno de energia e inventividade. É só conferir especificamente em Ding-A-Ling-A-Ding, a faixa 4 do disco. É de cair de joelhos e rezar.
Juntar-se a sangue jovem funciona não somente como uma oxigenação no próprio trabalho, injetando ideias novas, concepções mais arrojadas e valores contemporâneos. Serve também para aprender, porque a juventude, mesmo em alguns casos sem a intenção, pode ensinar. Elvin Jones mostrou-se homem de coração aberto, capaz de abrir os portões a todos os que, também de coração aberto, baterem-lhe as portas. O disco inteiro você pode ouvir AQUI, com a devida atenção – sendo jovem ou não.