Músicos pintores #2: Ron Wood

“Se Miles Davis pode, por que não você, Ronnie?”, perguntou, certa vez, Charlie Watts, o célebre baterista dos Rolling Stones. Segundo a lenda, a frase foi proferida quando o guitarrista Ron Wood, entre a oitava e a nona dose de uísque, afirmou que não somente apreciava Van Gogh como sentia que tinha talento para fazer, numa tela, o mesmo que o genial holandês fez. Bem, o C₂H₆O fez a autoestima do guitarrista ir à estratosfera – o que não chega, para muitos, a ser uma vantagem. Eu, de minha parte, aprecio os quadros do stoned. O Keith abaixo é uma beleza:

 Ronnie Wood is looking to earn a bit of extra cash by selling portraits of his fellow Rolling Stones bandmates

A partir de então, Ron Wood frequentou a Ealing Art College, levando a sério a arte de pintar. Percebendo o óbvio, que as cenas de rock são plásticas per si, o guitarrista dedicou-se a imprimir, em cores e pinceladas, o que havia de mais emblemático – e por que não acrobático? – nas performances não somente dos Stones, mas de outros músicos que lhe chamavam a atenção. É o caso de Jimi Hendrix, abaixo, cuja essência parece bem capturada. A pose de beatitude, de reflexão cósmica está lá, nos olhos fechados e lábios cerrados. Quer mais? AQUI você vê Jeff Beck e Eric Clapton, pela mão de Ron.

Alguns poucos críticos levam a sério quando o guitarrista sai do palco e substitui um instrumento por outro. A maioria diverte-se com as estripulias pictóricas que Ron Wood apresenta ao público – e isso inclui uma quantidade enormíssima de obras que vão da arte figurativa ao abstracionismo, passando por esculturas, line drawings, imagens naturais e representações de animais. AQUI, por exemplo, seu gorila. Para Ron, a arte é terapêutica: “Não há melhor terapia do que iniciar um quadro e conseguir terminá-lo.”

Critics tell Ronnie Wood to stick to music ahead of exhibition | Ronnie Wood | The Guardian

A crítica Louisa Buck disse  que “somente o ego de uma estrela do rock seria capaz de achar interessante colocar a si mesmo e a própria banda num quadro que representa a devastação de Guernica”. Tem razão, claro, em criticar a possível heresia em relação ao mestre espanhol, mas não é este um dos propósitos da arte: transgredir, subverter a ordem estabelecida? Para ela, Ron Wood deveria manter nas mãos uma guitarra, e não pincéis. Um outro crítico, Oliver Basciano, afirmou que “a arte deve possuir uma dose de ousadia, mas aí já é demais.” Talvez esteja certo, talvez não.

Rolling Stones Guitarist Ronnie Wood Is Also an Artist—But His Amateur Paintings Can't Get No Satisfaction From Critics

A quem interessar possa: AQUI, uma palinha.

About the author

Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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