De volta.
Qualquer estudante secundarista já estudou escalas termométricas: Celsius, Kelvin, Reaumur, Rankine e, claro, aquela que possui o nome mais charmoso, Fahrenheit. Esse nome alemão pertence a Daniel Gabriel, físico teuto-polonês que inventou o termômetro de mercúrio e que adorava spaghetti. Na escala Fahrenheit, o papel combure a 451 graus – daí o título. Um filmaço, dirigido pelo meu xará, François Truffaut, e com a presença luminosíssima da bela Julie Christie.
Revi o filme porque queria apresentá-lo a um amigo que havia lido o livro – homônimo, de Ray Bradbury – no qual o filme se baseou. A película é uma declaração de amor aos livros: a mais potente, precisa e poética forma de dizer aos livros o quanto eles importam. E como seria o mundo sem eles? Eis a questão: o que seria deste planeta sem Shakespeare, Cervantes, Dante, Camões? E olhe que cito somente gente ligada à literatura, porque sem a Arte em geral e Filosofia, estaríamos de 4, no bosque, uivando para a lua.
Num futuro distópico, os livros representam o perigo, afinal versam sobre o conhecimento, sobre a informação. Não são eles os grandes inimigos do totalitarismo? Devem ser extirpados, destruídos como se fossem uma lepra social. Em se tratando de um Brasil recente – e considerando as proporções óbvias -, passamos por isso. Artistas, neste país, durante quatro anos, foram os vagabundos, os inomináveis párias contrários à pátria amada. Enfim, isso é papo para outra postagem.
Truffaut foi feliz. Conseguiu imprimir no celuloide a força poética do romance de Bradbury. Conseguiu contar uma história cheia de suspense, amor, erotismo, aventura. Criou um cenário fotográfico nebuloso, tenso, corroborando a ideia de que algumas ações representam perigo tão imediato quanto fatal. Ler é crime, e criminosos devem ser punidos e educados a abominar a fonte de onde vêm as ideias. É um filmaço, uma ode à memória literária. E a propósito: esta aí embaixo é Julie Christie, de quem falei. Bonitinha, não?