Esta é para quem gosta de biografias. Dependendo do personagem sobre quem se fala, eu também gosto. Falei o óbvio. Para escrever a verdadeira história dOs Mamíferos, banda de rock capixaba que teve vida curtíssima – apenas 4 anos -, li sobre algumas vidas: de Lewis Carroll a Jorge Guinle, passando por Billie Holiday, Miles Davis, Frank Sinatra. Claro que priorizei biografias musicais, evidentemente. Aliás, há, sobre a biografia de Mr. Davis, algo a se considerar: a linguagem usada na tradução. Uma tristeza.
Eu explico. O livro é escrito a quatro mãos: o próprio Miles e Quincy Troupe, poeta e escritor que, entre outras obras relevantes, escreveu sobre Stevie Wonder e sobre o Weather Reports. Sabe o que fala, sabe o que escreve e, sendo ele um arguto observador da cultura afro, muitos dos termos usados no texto refletem a linguagem específica do universo negro norte-americano. E como traduzir isso? Não é fácil, eu sei, mas encher a tradução com expressões que adolescentes brasileiros falam é, no mínimo, inadequado. De resto, nada como ler sobre um dos homens que, em pelo menos duas ocasiões, mudaram o jazz.
Não é o que acontece com a biografia do maior baterista do rock – Keith Moon. Tony Fletcher, o biógrafo, assim como Quincy Troupe, ama a personagem de quem fala. Absolutamente detalhista, criterioso, mantém-se na linguagem que alia bom jornalismo e boa literatura. Herdeiro do new journalism, distanciou-se de Gay Talese, de Truman Capote ou de Tom Wolfe ao evitar os elementos romanescos e possivelmente fictícios – mesmo que para apenas ilustrar a obra. Eis um retrato de Keith para além do baterista.
Keith coloca Ginger Baker e John Bonham no bolso, deixando que se baqueteiem mutuamente disputando a vice-liderança. Não, não é pouco. De criança-problema ao estrelato mundial, essa figura mítica, intrigante e genial criou um mundo em que era o grão-vizir, fazendo o que queria, explodindo instrumentos, arrumando confusões com skinheads, brigando com colegas de banda, fantasiando-se de cavalo, divertindo-se às custas do constrangimento alheio. Era uma criança quando tinha de ser criança – e assim continuou até morrer, em 1978, mal tinha acabado de fazer 32 anos. Fica sua história, para gozo dos fãs e dos admiradores do bom e velho rock.