Deixando as férias para trás: estamos de volta, com plural de modéstia e tudo o mais.
Iniciando 2025 com música. Escrever sobre amigos é sempre perigoso, já que o afeto mete o bedelho onde não deve. Mesmo assim, deve-se tentar. Ouvi – e reouvi – um disco que completará, em outubro, 25 anos: o tal jubileu de prata, seja lá o que isso queira dizer. O disco em questão é Palco Iluminado, de um trio de jazz capitaneado por Afonso Abreu, contrabaixista de primeira, na estrada há 60 anos. Os outros componentes do trio: o pianista Pedro Alcântara e o baterista, tão longevo quanto Afonso, Marco Antônio Grijó. Sim, é meu parente. O disco em questão foi gravado ao vivo, no Teatro Carlos Gomes, centro de Vitória, em 2000. O título é adequado. Eis a capa:
Grijó e Afonso entendem-se há 50 anos: uma parceria quer se iniciou no coração da década de 60 – século passado – e estendeu-se até os dias atuais, mesmo que sem a frequência de antes. Fizeram, e ainda são capazes de fazer, um um de primeiríssima, suingado, pulsante, absurdamente ajustado. Esse ajuste se deve também à presença do pianista, que mostra o caminho por onde todos devem ir. Pedro Alcântara exsuda talento: os dedos parecem multiplicar-se diante de Steinway e seus filhos. É o trio perfeito, a música perfeita.
Há pelo menos 3 performances antológicas: All Blues, de Miles Davis; Autumn Leaves, do húngaro Joseph Kosma, e O Morro não tem vez, da dupla Jobim-Vinicius. Marco Antônio Grijó, um tanto contido porque o repertório assim exigia, é a cozinha de luxo, sublinhando significativamente o que Pedro e Afonso dialogam entre si. A sempre difícil brubeckiana In Your own sweet way é um dos pontos altos do show, com o pianista alternando entre o fraseado lírico e a base percussiva. É uma beleza.
Afonso e Grijó foram mamíferos. O que isso quer dizer? AQUI você entenderá. AQUI também. O entendimento mútuo proporcionou uma adequação musical como pouco se vê, por aqui. Pedro adequou-se: foi o amálgama perfeito para que esse disco pudesse vir à superfície, de forma a apresentar a quem não (re)conhece o jazz feito no ES. Não um jazz com características específicas – música não é moqueca! -, mas a execução exemplar do gênero que foi levado a limites que realmente impressionam. Sim, e o palco se ilumina, porque o trio é jazz, é luz e é som. Aproveite.
De lambugem: All Blues em outra ocasião.