No ano em que nasci, 1962, o mexicano Carlos Fuentes escreveu duas obras-primas. Uma delas, o romance A Morte de Artemio Cruz, nasceu no ano anterior, mas foi publicado em setembro do ano seguinte. A outra, a novela de título Aura, foi escrita e publicada no mês de meu nascimento, abril. O México, que produziu Juan Rulfo, Juan José Arreola e Octavio Paz – só para citar os titãs -, trouxe ao mundo também Carlos Fuentes, o mais prolífico deles. Para muitos, o mais criativo. E Aura, texto em questão, está entre seus melhores trabalhos.
Por que falo de Fuentes? Porque, se vivo, esse extraordinário escritor estaria, em breve – 12 de novembro -, completando 90 anos. E falo de Aura porque, como disse anteriormente, tem a minha idade. Só isso já seria mote suficiente para dar as caras neste blogue. A edição que possuo, e que adquiri há uns 30 anos, tem essa capa ao lado. A história, per si, é um grande diálogo com o sobrenatural, com o mundo dos espíritos, além de um enredo em que o amor assume o comando. Aquilo que poderia ser banal em minhas mãos (e de muitos escritores tarimbados) torna-se genial nas mãos de Carlos Fuentes.
Narrado em 2ª pessoa do singular, Aura torna-se, justamente por isso, uma conversa – entre narrador e personagem. É uma narrativa barroca, de suspense, carregada de cinematografia – o que, aliás, faz sentido, já que foi filmado, alguns anos depois, com o título A Feiticeira no Amor, de Damiano Damiani. Enfim, volto ao livro: se você é afeito a histórias de suspense/terror e, claro, aprecia, também, a literatura de qualidade, é de Aura que você precisa. Em alguns momentos de tensão narrativa, não se permite ao leitor saber se o que é lido é real ou imaginário. Eis, para mim, o grande patrimônio da novela.
Aura é carregada de simbolismos, que só funcionam se quem lê, munido de informações, consiga dar vida a eles. É a contrapartida do leitor, diante da obra-prima. Há uma anciã devota do catolicismo e de rituais de bruxaria, há uma casa às escuras somente iluminada por velas, há um livro de memórias a ser completado, há um historiador que se confunde com a história – e, claro, há Aura, a bela Aura, personagem que, ao final se mostra surpreendentemente distinta de qualquer interpretação. Mais não falo. Leia, se puder! Vale conhecer Carlos Fuentes e o que ele nos proporciona! Viva México!