Genialidade mutilada #2

Cover of the album Caetano e Chico - juntos e ao vivo.jpgEscrevi sobre o disco Caetano e Chico – juntos e ao vivo, lançado pela Polygram em 1972. Você pode ler a postagem AQUI. Repito: a capa do disco, agora numa repetição mais tímida, está ao lado. O elepê em questão – destaque do mês -, um dos shows mais emblemáticos do período brabo do regime militar, foi miserável, grotesca e truculentamente mutilado. Um encontro entre dois dos maiores artistas da música brasileira, num show, durou menos de 36 minutos. Vou repetir: um show com pouco mais de meia hora. E pior: mal gravado.

Tenho buscado na web informações sobre o disco. Busquei também na biografia de Caetano, sobre a qual também escrevi. Pouca coisa se fala sobre esse show, até porque sua temporada fora abalada pela morte suicida do jornalista, poeta e compositor Torquato Neto, amigo chegado de Caetano. A Polygram imaginou que o disco, lançado no início de 1973 – mas registrado como se fosse de 1972 -, fosse fracassar. Errou feio. O disco vendeu bem, e dinamitou a ideia de que os dois artistas eram inconciliáveis. Não encontrei detalhes sobre o assunto nem em Verdade Tropical, do próprio Caetano.

Consegui, entretanto, algumas informações sobre o que os dois compositores propuseram para o show. Caetano, vestido intencionalmente de forma espalhafatosa, de batom e brilhos, escandalizava os censores. Chico, comedido por conta da timidez, deu seu recado. O que interessa, entretanto, é que as canções propostas praticamente não foram gravadas. Ou, se foram, não constam do disco. Daí a pergunta (a qual repito): que diabos de show é esse que dura menos de 40 minutos? Veja a lista das canções num documento da época:

O trabalho da censura foi um sucesso. Das canções propostas, apenas algumas foram selecionadas. Os originais dessa gravação certamente estão em poder da Polygram, que poderia – e deveria, em minha opinião! – corrigir esse erro. Imagine, nos 50 anos de vida desse disco, ele realmente vir à tona, sem cortes! Para os fãs, o tesouro absoluto. Resta saber se haverá disposição para resgatar o passado. Um passado de valor absolutamente necessário. Um resgate essencial.

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Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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