Arthur Dapieve é um cara boa praça. Entende de música, sabe escrever, é irônico – uma necessidade nesse ofício -, está na folha de pagamento da Globo, aprecia demasiadamente o rock e, dentre outras peças escritas, apresentou ao público, em 1995, este livro que você, possível leitor, está vendo:
BRock é a denominação do autor para o gênero pop-rock desenvolvido no Brasil no início dos anos 1980. Antes que você pergunte: escrevo sobre o assunto porque ontem, dia 21 de abril, assisti a partes de um show em homenagem aos 40 anos do chamado rock brasileiro. O Canal Brasil proporcionou o encontro entre várias bandas que, há 40 anos – ou um pouco menos -, fizeram a cabeça da moçada.
O evento, até onde sei, vai-se estender até dia 24, e muita gente conhecida vai-se apresentar: de Marina Lima a Nando Reis, passando por Fernanda Abreu, Biquini Cavadão, Blitz, Paulo Ricardo, Frejat, Leo Jaime, Barão Vermelho, Os Paralamas do Sucesso e alguns mais. Bem, eu não tenho uma opinião formada sobre rock brasileiro, mas isso é irrelevante. O que é relevante, para mim, é o motivo pelo qual não a tenho.
Em 1982, quando tudo começou, eu tinha 20 anos. Seria absolutamente natural que, nessa idade, eu me interessasse pelo rock nacional. Seria, mas não foi. Primeiro, porque eu já me interessava por jazz e por MPB, e, sendo assim, meu parâmetro musical e textual era outro. As letras do BRock pareciam-me bobocas demais, quando comparadas ao magnífico trabalho de Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Belchior, Toquinho & Vinícius, Edu Lobo. Sem contar que a “atitude política” roqueira daquela rapaziada sempre me pareceu artificial demais.
Resultado: envelheci sem usufruir daquela atmosfera de (pseudo)rebeldia que cercou o movimento, e que fez muitos de meus amigos felizes. Fiquei ouvindo The Who, Led Zeppelin, Pink Floyd, Joe Cocker e Jethro Tull, e poderia ter adicionado algumas doses de rock brazuca, condizentes com minha faixa etária. Não sei se errei, mas certifico-me de que perdi uma oportunidade. Ou me livrei dela.