Assim que conheci – pelos discos, evidentemente – Ella Fitzgerald, imaginei que não houvesse cantora que, no jazz, pudesse rivalizar com ela. Enganei-me, claro, já que Sarah Vaughan existia. Havia uma outra, a quem conheci (metonímia) mais tarde, cantando temas de Thelonious Monk: Carmen McRae. Maravilhado, estabeleceu-se para mim – e aí entra a subjetividade – a tríade fundamental do jazz vocal. O disco em questão está aí, ao lado. Há outros, porém Carmen Sings Monk é uma das obras-primas da canção. Não conhece? AQUI a chance de corrigir a falha.
Só as presenças do sax de Charlie Rouse, grande companheiro de Monk, e da bateria de Al Foster já fariam o disco valer a pena. O piano de Eric Gunnison é algo sublime, mas o grande instrumento, a verdadeira potência de todo o disco, é a voz de Carmen – isso, evidentemente, sublinhando o suingue de boa parte das canções escolhidas por ela, sem interferências, segundo o produtor dessa belezura de obra, Larry Clothier. Aliás, é bom que se diga: com algumas poucas exceções, o mulherio mandava e desmandava na confecção dos discos.
Há uma curiosidade em Carmen Sings Monk. As canções ganharam novos títulos, por conta de restrições aos direitos autorais. Por exemplo: Ruby, My Dear tornou-se Dear Ruby; Well, You Needn’t virou It’s Over Now; Monk’s Dream ganhou o título de Man, That Was a Dream, assim por diante. Fácil de explicar: originalmente sem letra, as canções eram outras. Apenas uma manteve-se íntegra: ‘Round Midnight. Isso não importa muito, porque o consumidor quer é, de fato, ouvir a combinação entre a maestria pianística de Thelonious Monk adicionada à extraordinária voz de Carmen.
Carmen McRae possui outros grandes discos. Tenho vários, incluindo um sobre o qual quero escrever, em que ela se faz acompanhar pelo pianista Dave Brubeck. Há um outro – magnífico -, em que faz duo com o incomparável Sammy Davis, Jr., intitulado Boy meets Girl. Sei que nenhum habituée deste blogue se lembra, mas coloquei esse disco na lista de melhores duos do jazz. Está AQUI. Isso, claro, é assunto para outra postagem. Por enquanto, quem faz companhia para Carmen é Monk – e você, que está lendo.
