Um querido amigo, professor no RJ, contou-me, estupefato:
“Pedi a meus alunos, todos na faixa dos 16 anos, que me apontassem um grande sucesso de Tom Jobim. Os alunos entreolharam-se, e os olhares pareciam perguntar ‘Quem é Tom Jobim?’. Eis que uma menina, mais espertinha e contumaz usuária de celulares conectados ao mundo, perguntou: ‘É esse?’, e mostrou-me uma foto – e subsequentes preciosas informações – sobre Jon Bon Jovi.” Para quem não sabe, este, abaixo, é Antônio Carlos Jobim:
Sim, caros sexto e sétimo leitores, é sério. A despeito do distante parentesco – afinal ambos os nomes possuam o, j e i, sem contar a nasalização após o fonema /o/ -, o problema não é confundir o gênio com o pop star. O real problema reside em não fazer ideia de quem é Tom Jobim. Ou pior: sequer ter ouvido falar nele. Convivo com essa realidade e, ao contrário de lamentar e pensar em suicídio, tomo-a como combustível para continuar meu trabalho. Insisto no árduo (e muitas vezes infértil) ofício de levar a essa meninada – no meu caso, pré-vestibulandos entre 17 e 20 anos – informações sobre o que vale a pena. Ou, por outra: o que eu penso que vale a pena.
Claro que há exceções. Dia desses, surpreendi-me: uma aluna perguntou-me se eu conhecia a cantora Carmen McRae. Pensei imediatamente em pedir a Jorge Bergoglio que, sendo ele meu xará, rezasse uma missa – no Vaticano. É uma pergunta que, dado o ambiente e o costume, chega às raias do milagre dos pães e dos peixes. Comemorei tanto que estou escrevendo sobre. Aproveitei e sugeri a ela que lesse uma postagem sobre a distintíssima e extraordinária cantora Carmen. AQUI, caso alguém, além da aluna, deseje ler.
Eis a questão: qual o papel de um professor? Entristecer-se e, sozinho, no silêncio da noite, embebedar-se? Crer-se cúmplice do desconhecimento e, então, ingerir a letal ricina, proteína encontrada exclusivamente no endosperma das sementes de mamona? Frustrar-se com a duvidosa opção dos alunos ou, sabendo dessa triste realidade, oportunizar que eles conheçam algo além do que é veiculado pela restrita web que frequentam? Creio que a opção em negrito seja a adequada. Vou em frente, sempre. Drummond tinha razão ao afirmar “Lutar com palavras / é a luta mais vã. / Entanto lutamos / mal rompe a manhã.” Sem heroísmos, mas cumprindo a tarefa.