Sem Bruce (há 50 anos)

 

No último 20 de junho: o cinquentenário de morte de Bruce Lee. Sou fã, e já disse isso. Certo, certo: era um péssimo ator, os filmes eram sofríveis – exceção para Operação Dragão -, os coadjuvantes tinham, assim como ele, a expressividade de um copo de guaraná e as histórias não faziam muito sentido – mas e daí? Quem ia ao cinema não esperava que Mr. Lee fosse Laurence Olivier, nem que as histórias tivessem a (chata) profundidade simbólica de filmes na Nouvelle Vague. Queriam, como eu, testemunhar as cenas de ação, os chutes, os voos, a pancadaria e, claro, os uivos peculiares do maior astro de ação marcial do cinema.

Durante a adolescência, assisti a quatro dos cinco filmes que estrelou. Deixei O Jogo da Morte para bem depois, em videocassete, mas as películas que estrelou como Dragão nos cinemas brasileiros foram vistos por mim com o fanatismo de um crente ensandecido. Claro: assisti a tais filmes algum tempo após terem sido feitos, até porque à época do lançamento da primeira aventura eu tinha apenas 9 anos. Confesso que ter assistido ao embate entre Lee e Chuck Norris nas ruínas do Coliseu, nos últimos minutos de O Voo do Dragão, foi quase uma epifania. Não conhece a cena? Duvido. De qualquer forma, AQUI está. É um show, um balé. E um gato como juiz.

Os filmes de Bruce Lee me levaram às artes marciais: lutei judô e caratê na adolescência. Nunca fui grande coisa como atleta, até porque não levei a coisa muito a sério, não obstante ter vencido alguns bons embates e faturado umas medalhinhas. Os filmes funcionavam mais ou menos como a fantasia do que eu (nunca) poderia ter sido, mas o desejo era pertinaz, embora nada se fizesse para concretizar o que se pretendia. Coisa de menino diante do herói que elegeu para modelo que não seguiu. O mesmo aconteceu com Pelé e Superman – mas isso é papo para depois.

Réquiem para Bruce Lee em Cannes - Estadão

 

Hoje, aos 61 anos, volta e meia me deparo com os filmes estrelados por Bruce – todos eles fazendo parte do plantel dos telecines da vida, sendo apresentados à garotada sem qualquer reverência ou solenidade, como se não passassem apenas de mais um filme em que um chinês enche os branquelos de porrada. Espanca também outros chineses, sem qualquer misericórdia conterrânea. Jackie Chan, Jet Li, Mark Dacascos e até Keanu Reeves (que é, na verdade, libanês e não se parece com um oriental) têm mais apelo com a meninada. Que tal perguntar aos citados senhores qual a inspiração? Tenho certeza de que concordarão em pelo menos um nome.

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Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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