A continuação. Numa anterior postagem, a partir de um desafio de Lucas Lessa, apreciador do jazz e do Ipsis Litteris, escrevi sobre os melhores discos de jazz ao vivo. Cinco, na minha opinião. A subjetividade mandando ver. Agora, os cinco melhores em estúdio – as mesmas regras, a mesma visão pessoal, o mesmo blablablá.
My Favorite Things é um clássico. John Coltrane, outro. E o tema-título, canção de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein, mais um. O que Coltrane fez foi manter a melodia básica da canção (contida no filme A Noviça Rebelde) e elevá-la harmonicamente ao céu. Sem exageros. E é um disco emblemático porque é o primeiro no qual está junto o quarteto clássico do saxofonista: McCoy Tyner (piano), Steve Davis (baixo) e o maior baterista de jazz, Elvin Jones. Retomando: é um disco de clássicos: além da faixa citada, há uma Cole porter (Everytime we say goodbye) e duas de George Gershwin (Summertime e But Not for Me). Um álbum essencial em que Coltrane toca os saxes soprano e tenor. AQUI o álbum completo.
Junte três dos melhores saxofonistas altos da história: Charlie Parker, Johnny Hodges e Benny Carter. Adicione aí o maior virtuose do piano jazzístico: Oscar Peterson. Depois chame um dos grandes baixistas do gênero (Ray Brown). Não satisfeito, convoque mais três sopros: Charlie Shavers (trompete), o extraordinário Ben Webster e o magnífico Flip Phillips (sax tenores). As cerejas do bolo: a guitarra de Barney Kessell e a bateria de J. C. Heard. Pronto! Tem-se aí um dos maiores discos do jazz. Destaque para os 14 minutos de um medley baladoso e para os improvisos de quase 15 minutos em Jam Blues. Um discaço, completinho, AQUI.
Imagine um disco em que tudo dá certo. Setting The Pace realmente realiza o que o título promete: marca o ritmo, e, para isso, dois dos melhores saxofonistas de todas as épocas se encontram: Dexter Gordon e Booker Ervin. Na cozinha, Alan Dawson (bateria), Reggie Workman (contrabaixo) e o excelente Jaki Byard, no piano. São apenas quatro faixas (duas delas de Ervin), que tem mais presença que Dexter no disco – algo que pode ser considerado uma façanha quase milagrosa. É hard bop da melhor qualidade, um disco aceso, vibrante, com um pianista que parece ter quatro mãos e um baterista que é, sempre, muito competente. Um álbum pra lá de essencial. Uma pequena amostra AQUI.
Money Jungle. Quem aprecia o jazz sabe exatamente do que os três protagonistas deste disco são capazes. De ir além do que se pode imaginar – essa é a resposta. Duke Ellington, o maior compositor do jazz; Charles Mingus, o maior baixista e orquestrador de primeiríssima; Max Roach, um dos melhores bateristas de todos os tempos. Precisaria dizer mais? Sim, porque o repertório, carregado de blues e de post bop, tem a marca do pianista, que dita as normas do disco. Num disco sem sopros, Ellington é suave, mas preciso. Roach, um tanto tímido – absolutamente sensacional, todavia! -, dialoga com Mingus de forma hipersensível. É um tremendo disco! Uma reunião de gênios cujo resultado é um dos melhores discos de jazz que conheço. AQUI, o disco por inteiro.
E quem, comprometido em criar uma lista honesta dos melhores discos de jazz em estúdio, poderia deixar Kind of Blue de fora? A obra-prima do jazz modal, a revolução (ou uma delas) que Miles impôs ao gênero. Na postagem sobre discos ao vivo, citei Jazz at The Plaza. A sessão rítmica é a mesma. Miles, Coltrane, Cannonball, Bill Evans (o pianista Wynton Kelly faz uma ponta), Paul Chambers, Jimmy Cobb. O melhor sexteto do jazz – e ponto final. Para muita gente, este disco é o melhor exemplo do que o jazz significa. Sem contar que, comercialmente, é o mais importante trabalho de Miles Davis. Se você nunca ouviu nada de jazz, pode ouvir isso que basta. Destaque para So What e All Blues. Está tudo AQUI.