Herman Leonard é o maior fotógrafo do jazz. Ponto. Essa afirmação será confirmada por si só, nesta postagem. Não há, penso, necessidade de palavras que possam definir a sensibilidade + talento + oportunidade de capturar as imagens que este senhor capturou durante anos acompanhando grandes nomes do gênero. É o gênio da raça, o apogeu, o mestre absoluto – e olhe que tinha rivais de peso, como Jim Marshall, Bob Willoughby e William Claxton, três bambas que souberam definir, em imagens, a época e a estampa jazzística. Leonard, entretanto, fez mais: transformou ícones da música em criaturas humanas dotadas da mesma fragilidade que o mais ordinário dos homens.
Billie Holiday
Há algo de melancólico na foto de Billie Holiday. Parece estar à espera do momento certo para adentrar a melodia, com sua voz de pouco alcance, mas absolutamente inesquecível. Não está em ação, mas Herman Leonard conseguiu, a meu ver, dar um tom ao momento. Billie observa, de uma forma aparentemente triste, a ação que virá. Abaixo, Dizzy Gillespie, uma das mais significativas figuras do jazz, num solo que parecemos ouvir. A fotografia é de 1948. Dizzy foi outro que Leonard acompanhou por décadas, captando o que ele possuía de mais peculiar – além, evidentemente, da música.
Dizzy
Ella Fitzgerald
Essa senhora acima, a Primeira Dama do Jazz, era sua preferida. Herman Leonard acompanhou-a durante várias apresentações pelos EUA e pelo mundo, de 1949 até 1987. A foto exposta, feita em Paris, em 1960, é a expressão do que o jazz pode provocar em quem o produz. A percepção do momento oportuno, do êxtase, do suor que brota e que escorre pela face: tudo isso exala felicidade na captura daquilo que se chama performance e que será eternizado pelo instantâneo. Quem mais poderia ter feito isso? O mesmo se pode dizer da foto abaixo, no Downbeat Club, em 1948. Na plateia, maravilhados com Ella e com sua voz, estão Duke Ellington, à frente, e, mais atrás, Benny Goodman. E o que dizer do ponto luminoso entre o pescoço e o ombro dElla?
Dexter Gordon
Acima, a foto mais famosa feita por Herman Leonard. Dexter Gordon, um dos gigantes do sax tenor, à espera de que o show tenha início, no Royal Roost Club, em Nova Iorque. Dexter parece parado no ar, a fumaça do cigarro envolvendo-o. Atrás, o baterista Kenny Clarke. O próprio Leonard afirmou que a fumaça fazia parte da atmosfera do momento e dramatizava o instantâneo, o momento eternizado. É uma foto sensacional, de 1948. Em 1953 – abaixo -, o encontro entre o saxofonista Sonny Stitt e o sempre ótimo trompetista Dizzy Gillespie, alguns anos antes do histórico disco que reuniu os dois + o extraordinário saxofonista Sonny Rollins. Stitt, olhar absorvido, é o que há de melhor na foto.
Sonny Stitt, Dizzy Gillespie
Duke Ellington, Billy Strayhorn
Coleman Hawkins
Hawkins foi uma escola, uma tendência que trouxe à superfície um grande número de não menos grandes seguidores. O citado Sonny Rollins foi um deles. Esse close parece expressar a seriedade e a dedicação com que o enormíssimo sax tenor executava seu instrumento. Claro: não é prerrogativa sua. Muitos foram tão dedicados quanto ele, mas somente o velho Coleman teve o privilégio desse registro tão autêntico, tão verdadeiro. O mesmo se pode dizer de outro grande músico – o trompetista Fats Navarro (de quem sou fã). A fumaça, tão cara ao ambiente jazzístico, parece brotar das válvulas do instrumento, proporcionando a fusão entre imagem e som. Esta é outra foto seminal.
Fats Navarro
Herman Leonard morreu em 2010, de causa não revelada. Um serviço: AQUI é possível visualizar inúmeras de suas fotos. O tema, claro, é o jazz e quem o produziu.