Amanhã será o primeiro dia de junho, e há 106 anos nascia um dos melhores e menos reconhecidos escritores brasileiros: Murilo Rubião. Se você não conhece seus livros – que não são muitos! -, corra e busque o seu, porque ler suas histórias absurdas, seus contos fantásticos, suas personagens inesquecíveis é um prazer que você somente encontrará, se tiver sorte, entre brasileiros, em José J. Veiga. Mas ele vai além disso – muito além. É um craque a serviço da boa literatura, com uma forma de narrar aparentemente simples, sem floreios, sem barroquismos. Aí está a dificuldade.
O livro que mostro na foto é a reunião de todos os seus contos: apenas 33. Bem, uso o advérbio apenas para me referir à quantidade. A qualidade, inequívoca, é encontrada em todas as histórias. Sim, eu disse todas, porque em nenhuma delas o vigor literário – seja nas narrações, nas descrições, nos diálogos ou na composição das personagens – deixa de ser a marca que mantém o leitor aceso, apegado ao texto. Quando se chega ao fim, a impressão que se tem é de que qualquer elemento a mais poderia macular a perfeição da narrativa.
Para escrever esta postagem, reli, de imediato, Bárbara, uma das mais impressionantes histórias curtas da literatura deste país. Sim, sem exagero. Depois reli um conto que flerta com o terror chamado Aglaia. Ambas as histórias, tendo mulheres como fundamento, expõem a fragilidade da figura masculina. Pode parecer um clichê, mas, sob a batuta de Rubião, essa relação de poder parece algo inédito. Bárbara pede tudo o que vê, e engorda tornando-se algo monstruoso. Aglaia torna-se uma parideira sem controle sobre as múltiplas gestações – e abominando cada uma delas.
O marido de Bárbara é o narrador. Mostra o próprio desassossego, o desespero de amar uma mulher que deseja tudo o que se mostra diante dela. Ele ama e concede, faz-lhe as vontades. Colebra, marido de Aglaia, é pai de dezenas de crianças que nascem, muitas vezes em pencas, com apenas semanas de gestação. Tem ímpetos de esmagá-los com os pés, mas consola-se com a dor ainda maior da esposa. Duas mulheres, dois títulos. Murilo, 106 anos, continua essencial. Repito: se não conhece, corra para conhecer.