Hoje é dia primeiro de Maio, dia do trabalhador. É data mundial, aclamada, respeitada, sentida. É dia também da Literatura Brasileira, escolhida por conta do nascimento do primeiro grande contador de histórias que o Brasil produziu: o cearense José de Alencar, autor de textos em que índios heroicos, damas sensuais e regionalismos exagerados funcionavam como grandes patrimônios da brasilidade. Alencar não era fácil: foi o melhor em sua especialidade. Tivesse escrito em francês seria um Alexandre Dumas, fils. Mas não é sobre José de Alencar que quero falar – e sim sobre esse dia tão caro, e ao mesmo tempo ignorado, aos escritores, como eu. Homenageando o dia (e indo além da produção brasileira), resolvi, até como proposta lúdica, expor aquilo que alguns – apenas por curiosidade, creio – esperam de mim: uma lista dos melhores livros que li.
- Don Quixote, Miguel de Cervantes
- O Homem sem Qualidades, Robert Musil
- Todos Os Fogos O Fogo, Julio Cortázar
- Fogo Pálido, Vladimir Nabokov
- Alice no País das Maravilhas, Lewis Carroll
- Havana para Um Infante Defunto, G. Cabrera Infante
- História Universal da Infâmia, J. L. Borges
- Pedro Páramo, Juan Rulfo
- Almoço dos Campeões, Kurt Vonnegut, Jr.
- Crime e Castigo, F. Dostoievski
- Retrato do Artista quando Jovem, James Joyce
- Os Nus e Os Mortos, Norman Mailer
- As Viagens de Gulliver, Jonathan Swift
- A Harpa e A Sombra, Alejo Carpentier
- Nostromo, Joseph Conrad
Nenhum brasileiro?, perguntará o leitor mais ufanista, querendo fuzuê, afinal o dia é da Literatura Brasileira, com maiúsculas mesmo. Nenhum – nem Machado de Assis, que, entre os conterrâneos, é o melhor. Ao competir com os gringos de sua época, leva grande surra. Claro que é apenas uma opinião, sujeita a debates e a tabefes. A lista traz, como se pode observar, cinco autores de língua inglesa (deixei de fora Conrad e Nabokov, que escreveram suas obras-primas em inglês). Seis em língua espanhola (incluo aí o cubanês de Carpentier), um em língua alemã e outro russo – esse, sim, escrevendo como um eslavo. Como se pode perceber, deixei de fora a lírica e o drama. A lista se resume a narrativas – daí Shakespeare ter ficado no limbo.
Listas servem para divertir – principalmente para divertir aquele que as cria. Limitei-me a quinze títulos: o que me força a deixar de fora autores fundamentais que, num rol mais elástico, estariam presentes. É muita gente que não cabe na festa. Mas e quanto ao ufanista do parágrafo anterior? Pensando nele, e imaginando-o emburrado como uma criança contradita, crio um outro inventário, doméstico dessa vez, para amenizar a fúria alheia – sem contar que esse é, de fato, o propósito da postagem. Que não se imagine, por favor, uma lista que brote da autoridade de um professor da área. Pode esquecer isso: não sou nem nunca fui autoridade. Quem aqui fala é o leitor! Sim, isso serve como álibi.
- Quincas Borba, Machado de Assis
- A Lua vem da Ásia, Campos de Carvalho
- Os Dragões, Murilo Rubião
- A Grande Arte, Rubem Fonseca
- O Casamento, Nelson Rodrigues
- Avalovara, Osman Lins
- Senhora, José de Alencar.
- Tenda dos Milagres, Jorge Amado
- Os Doze Trabalhos de Hércules, Monteiro Lobato
- Transístor, Murilo Mendes
- Primeiras Estórias, Guimarães Rosa
- Sermões, Pe. Antonio Vieira
- Livro das Horas, Nélida Piñon
- João Ternura, Aníbal Machado
- São Bernardo, G. Ramos
E Oswald, Zé Lins, Clarice, Hilda Hilst, Cony, João do Rio? E Grande Sertão, Brás Cubas, Gabriela, Policarpo Quaresma? E Os Sertões, considerado pelos críticos a obra mais importante? E tantos outros, esquecidos ou deixados para trás? Essas e outras perguntas não são respondidas tão facilmente – a não ser, claro, pela simples escolha de quem cria a lista. Eu, no caso. Sem contar que os patrulheiros do politicamente correto vão me acusar – sei que injustamente! – de misoginia. Uma mulher, apenas? Bem, pelo menos o substantivo lista é feminino.