O disco de Miles, por Khan

Já ouviu falar em Ashley Kahn? É um jornalista especializado em música, é produtor de rádio, professor, foi editor da Rolling Stone e escreveu um livro interessantíssimo sobre a gravadora Impulse!: The House of Trane Built: The Story of Impulse Records. Vou escrever sobre esse livro também, em breve. Ashley Khan, entretanto, está neste blogue por outro livro: Kind of Blue – a história da obra-prima de Miles Davis. Para quem não sabe – há alguém que não? -, Miles Davis é um dos maiores nomes do jazz. Para muita gente, é o maior. E Kind of Blue é seu disco de excelência, sua obra máxima.

O prefácio é do extraordinário baterista Jimmy Cobb, o único membro do sexteto que, à época em que o livro veio à superfície – ano 2000 -, estava vivo. Usei o termo extraordinário para Cobb, e uso também para todos os outros componentes da banda: Coltrane, Cannonball Adderley, Bill Evans, Paul Chambers e, evidentemente, o chefão: Miles. Ah, claro: Wynton Kelly, pianista, toca em uma faixa: Freddie Freeloader. Esses senhores, em perfeitíssima sintonia, criaram uma obra-prima, e Ashley Kahn detalha como, quando e por quais motivos esse disco se tornou icônico e vendeu milhões de cópias.

Há passagens saborosíssimas no livro: desde a forma como Miles Davis arregimentou Cannonball para seu time até as dificuldades estéticas da primeira sessão de gravação, em 2 de março de 1959. Aliás, a segunda sessão só teve início 50 dias depois, quase em final de abril. O que mais chama a atenção é que o material do disco é simples. Não há grandes complexidades musicais, grandes novidades harmônicas ou rítmicas. É um disco de beleza extrema, de sensibilidade aguçada. A revista Down Beat, especializada em jazz, afirmou que “o que é fora do comum é que esses homens tenham feito tanto com material tão esquálido e elementar.”

Muita gente diz que Kind of Blue inaugurou o jazz modal. Ashley Khan também, embora não se preocupe em explicar detalhadamente o que vem a ser esse subgênero. Preferiu mostrar todo o universo – político, financeiro, social, artístico – que cercou o final dos anos 1950 para expor seu resultado: Miles Davis e sua música. Mostrou pormenores de todos os músicos envolvidos, bem como dos produtores e dos chefões da estúdio. Apresentou-nos o papel dos críticos e do público. Todos marcados profundamente por uma guinada que o jazz deu a partir de Kind of Blue. Vale a leitura.

A propósito: se você não conhece o disco em questão, AQUI está, inteirinho.

About the author

Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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