Há uma anedota – se é que é anedota – que se conta sobre Gilbert Keith Chesterton, o escritor inglês. Chesterton era um homem grande e gordo, de humor ácido e frequente, e de uma sagacidade que rivalizava com a do popular Winston Churchill e a de Henry Louis Mencken, o temido jornalista norte-americano. Bem, eis a anedota: Chesterton encontrou o dramaturgo irlandês George Bernard Shaw, magro como o mapa do Chile, e lhe disse: “George, olho para você e vejo que há fome no mundo!” Shaw, devolveu, em moeda semelhante: “E olho para você e vejo quem a provoca!”
Bem, se esse episódio é verdadeiro ou fake, não importa. Vale pela engenhosidade do diálogo e, claro, pelo encontro de dois grandes da literatura inglesa. Não vou falar sobre Shaw, porque muito já se escreveu sobre ele. Mas sobre Chesterton nem tanto. Claro que falo sobre brasileiros escrevendo sobre esse gigante da poesia, da ensaística e das histórias de mistério. Falando nisso, já ouviram falar em Father Brown, o padre-detetive? Caso não, estão perdendo a chance de ler histórias tão saborosas quanto inteligentes, bem armadas, divertidas.
O livro em minha mão, na foto, é uma antologia: as melhores histórias desse detetive, distribuídas em 5 livros: The Innocence of Father Brown, The Wisdon of Father Brown, The Incredulity of Father Brown, The Secret of Father Brown e The Scandal of Father Brown. Agora imagine um padre católico, guarda-chuva na mão, inglês até a medula, resolvendo enigmas e denunciando criminosos a partir de uma observação tão arguta quanto improvável. Gorducho e mal-vestido, um tanto mal-humorado, relaciona-se bem com a comunidade a que pertence – mas sempre considerando-a capaz de hipocrisias e malefícios.
Diferentemente de Hercule Poirot – de Dame Christie – ou Sherlock Holmes, de Doyle, o padre de Chesterton é intuitivo. As deduções ficam em segundo plano, afinal o trabalho de um padre não se prende a regras cartesianas de dedução, fundamentadas. Sem contar algo que diverte: Padre Brown debocha dos protestantes, dos anglicanos, e, portanto, de Sherlock Holmes. Vale a pena a leitura absolutamente espirituosa de uma personagem que – fiquei sabendo há pouco – tornou-se televisiva. Parece que há uma série em que Father Brown é a estrela. Preciso ver, mas, por enquanto, vou apenas lendo.