Há 110 anos nascia um dos grandes fotógrafos do século XX: Henri Cartier-Bresson. Sou aquele fã que, tendo em mãos o extraordinário tête à tête (ao lado)- com minúsculas mesmo -, deslumbrou-se com a delicadeza e argúcia dos retratos desse genial fotógrafo. Lembro-me de o jornalista Paulo Francis chamando Sebastião Salgado de sub Cartier-Bresson. Era um daqueles programas da série Manhattan Connection – que, aliás, só era bom porque havia Paulo Francis. Houve, claro, um certo exagero na maledicência, mas um comentário com raízes na verdade. A superioridade do fotógrafo francês é visível, mas, de fato, de que vale a comparação?
Em sequência de 3: a beleza desleixada da pensadora Susan Sontag, a juventude do escritor Truman Capote e o charme absoluto do também escritor Albert Camus.
O livro em questão é composto de retratos – algo que, em tese e princípio, diz-se fácil de fazer. Engano total. Capturar o que há de mais pessoal em cada um dos retratados é tão difícil quanto adivinhar-lhes a personalidade, o caráter. Cartier-Bresson sabia o que estava fazendo. A despeito de conhecer seus modelos (alguns viu apenas uma vez), trouxe ao espectador uma visão muito pessoal de cada um que se colocou diante da câmera. O enormíssimo compositor Igor Stravinski, o pintor Henri Matisse e o polêmico pensador Carl G. Jung que o digam:
Dizem que a fotografia aproxima-se da morte (li isso através de Barthes, nos anos 1980), já que expressa um momento que nunca se repetirá, que tal observar esses momentos derradeiros tendo o grande pintor Pablo Picasso, o poeta Ezra Pound e o dramaturgo Arthur Miller como cobaias?
O escritor Samuel Beckett e a cantora Edith Piaf fecham esta postagem, mas o livro tête à tête deve ser lido/visto devagar, e de trás para frente após ter sido lido da forma tradicional. A cada página, é possível não somente estar diante da genialidade de Henri Cartier-Breeson, mas também poder privar com cada um dos retratados em sua particularidade: aquilo que esse fotógrafo conseguiu mostrar-nos. E ninguém mais.