Jethro Tull revisitado (um prelúdio para Mick Abrahams)
Se alguém perguntar – a quem gosta realmente de rock – qual a grande banda progressiva, é possível que se ouçam nomes como Yes, Pink Floyd, King Crimson e Genesis. São essas, evidentemente, e com justiça, as mais conhecidas, mais famosas. Rock progressivo é coisa de europeu, flerta com o jazz, com a música erudita, usa e abusa de sintetizadores, teclados, algumas letras são longas, os arranjos são complexos. É a parte adulta do rock: não é, em sua essência, feito para dançar nem para servir de música de fundo. É som para se ouvir mesmo. Mas por que falo de rock? Porque acabei de ouvir Stand Up, o segundo álbum da ótima banda Jethro Tull. Está AQUI, caso queira ouvir.
Eu conheci o Jethro Tull em meados dos anos 1980, quando ouvi Thick as a brick por acidente, na casa de um amigo. Não dei muita bola, mas fiquei curioso – para dizer o mínimo – quando soube que o mesmo artista, no caso Ian Anderson, líder da banda, dava conta da flauta, do acordeão, do trompete, do saxofone e do violino. E ainda cantava, com uma voz que, se não tinha muito alcance, era marcante, singular. Apreciei e, algum tempo depois, ouvi This Was, o primeiro disco da banda. Se já apontava como destaque no rock progressivo, ainda havia uma vantagem: o guitarrista Mick Abrahams, que só tocou com o grupo neste disco. Consta que, por não viajar de avião, optou por deixar a rapaziada a ver navios.
A versão oficial é outra: diferenças criativas com Ian Anderson. Ok, então. O disco que ilustra a postagem, e que acabei de ouvir, é de 1969 – segundo álbum -, e Mick, sem alçar voo, deu lugar a Martin Barre, outra fera nas cordas, além de cuidar de muitos arranjos de canções. Há quem diga que foi o par perfeito para o líder da banda. Pode ser, mas eu ainda fico com Mick Abrahams; confesso, todavia, que Mr. Barre deu conta do recado. Ouça o disco e você perceberá isso. Há uma outra questão, que, a meu ver, valoriza o álbum: Ian Anderson, e ele mesmo afirma isso, bebeu na fonte jazzística de Ornette Coleman, de Charlie Parker e do alucinadamente criativo Rahsaan Roland Kirk.
Claro que ao ouvir o disco, mesmo en passant, qualquer um que aprecie a música vai perceber o quanto há de folk nas faixas. Jon Renbourn, do Pentagle, Bert Jansch e, claro, Bob Dylan são influências evidentes. Um tempo depois, já em fins dos anos 1990, comprei um cedê intitulado At Last, da banda de Mick Abrahams, meu guitar hero que, claro, será assunto de uma postagem só dele. Por enquanto, o Stand UP, do Jethro Tull, dá as cartas. Aprecie sem moderar-se.