Nunca escrevi sobre esporte neste blogue que, aliás, é destinado a expressões artísticas e culturais: livros, cinema, fotografia, música, quadrinhos, blablablá. A categoria Mulheres foge à regra – mas é uma boa causa, claro. Resolvi, hoje, falar de esporte e, nessa categoria, escolho o mais popular de todos (e do qual mais gosto, ao lado do boxe e do basquete): o futebol. E dentro do futebol, escolho o que esse esporte produziu de melhor: Pelé, que, amanhã, 23 de outubro, completa 78 anos. Se você não o conhece, aí vai uma foto sem rosto (apenas silhueta), para atiçar sua lembrança:
Fico imaginando, num exercício fantasioso, Pelé com 23 anos, hoje. Creio que não haveria uma combinação tão perfeita entre marketing e produto. Embora eu não seja especialista na coisa, acredito de verdade que, com todo esse aparato midiático (internet, tevês a cabo, aplicativos) e marqueteiro (empresas de material esportivo, principalmente), não haveria um produto, no futebol, que rendesse maior dividendo. Pelé seria mais lendário do que é hoje, um atleta que fica para sempre, incluindo aí o imaginário de pessoas que sequer se interessam por futebol. Um fenômeno absoluto.
Certo, certo: o brasileiro, grosso modo, cospe em seu ídolos. Nelson Rodrigues já vociferava essa verdade inequívoca. Pelé é adorado como um totem eterno na Europa (onde, nos anos 1970, era uma marca que só perdia em popularidade para a Coca Cola), na África, na Ásia e sofre no Brasil um certo ódio contido, quando não explícito. Muitos cobram que ele seja eficiente em outros aspectos como era entre as quatro linhas. Uma injustiça descomunal, já que a vida de Pelé girava em torno de um campo, de uma bola, de um time. Vi-o jogar em fim de carreira. Comecei a me interessar por futebol no início dos anos 1970, quando ele, já com mais de 30, iniciava a aposentadoria.
Estive em sua despedida: no Maracanã, em 1971, num jogo contra a Iugoslávia, num empate com dois gols para cada lado. Lembro-me bem: estádio cheio, e eu sentado na arquibancada cercado pela família de Marco Antônio, lateral direito do Fluminense. Coisas da vida. Enfim, não há nada para ser dito neste texto que outro não o tenha feito. Escreve-se sobre Pelé há 60 anos – desde quando, na Suécia, aos 17 anos, foi eleito lenda. De lá para cá, tornou-se parâmetro de comparação, referência para todo craque que desponta aos quatro cantos. Eu vi Cruijff, Maradona, Van Basten, Messi, Cristiano Ronaldo. Pelé supera todos, com folga, em todos os fundamentos do futebol. Enfim, o resto é história.