As formas de Brecheret (antes do recesso)

Victor Brecheret é o único escultor de quem se fala quando a Semana de Arte Moderna vem à superfície, seja em conversas frugais, seja em debates acadêmicos. É um nome de peso, um artista fenomenal um tanto eclipsado pelos pintores Cândido Portinari, Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral, todos eles titãs do Modernismo brasileiro. Brecheret não participou da semana de corpo presente. Morava na Europa, onde adquiriu boa parte do que sabia, embora o país em que sempre desejou ter nascido fosse aquele que habitou na infância e adolescência: Brasil – especificamente são Paulo, onde se situa parte de sua nobre obra, como o Monumento às Bandeiras, de 1953:

                                                              

Só a obra citada já valeria para deixar gravado seu nome na arte brasileira. Não sendo um homem religioso, Victor Brecheret foi capaz de criar esculturas que representassem justamente aquilo que a Igreja tem de mais valioso: sua simbologia histórica que, na maioria dos casos, serve como antessala para a religiosidade e para a fé. Santa Ceia, de 1935, é uma peça de raríssima beleza, assim como Anunciação, de 1943 (três figuras abaixo) e a ilustração seguinte, Sóror Dolorosa, de 1920. Brecheret era italiano e, por isso, trazia a herança familiar católica, que embutiu em algumas peças.

 

 

Minha preferida: Portadora de Perfume, acima. Um exercício formal de 1924 que, segundo especialistas, não é nem de longe fácil de criar. Com mais de 3 metros de altura, é um dos monumentos mais belos de São Paulo. Claro: é opinião pessoal. Geometricamente bem articulado, o movimento de perna esquerda e braço direito parece expor uma coreografia que é centrada no equilíbrio do pote de perfume  no ombro direito. É uma beleza, assim como é bela uma outra mulher, Musa Impassível, de 1923, em homenagem a Francisca Júlia, único nome feminino importante do Parnasianismo brasileiro. Aliás, esse monumento ilustrou, por 80 anos, o túmulo da poeta.

 

 

E como nem de religiosidade vive o homem, eis duas peças que, numa avaliação rápida, podem ser consideradas profanas: Fauno, de 1942, hoje encontrada próxima ao Masp, no parque Trianon, e Ídolo, de 1919. Dois trabalhos de excelência de um artista que nasceu em 15 de dezembro, há 124 anos. Sem ele, provavelmente a escultura brasileira não teria conhecido as nuances do Modernismo. Não teria absorvido as tendências das vanguardas que a Europa criara nem seria a representação de uma sociedade que se distanciava do conservadorismo e flertava com o progresso industrial. Victor Brecheret, para muitos, é o maior escultor brasileiro de todas as épocas – mesmo sendo italiano.

Ei-lo, trabalhando:

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Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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