Cinema ou sardinha, Guillermo?

Guillermo Cabrera Infante y la censura

Escrevi sobre livros de Guillermo Cabrera Infante, um dos meus ídolos literários. Dois deles: Fumaça Pura e Mea Cuba, volumes cuja (re)leitura me enche de prazer e – se me permitem a pieguice – enchem meu coração de alegria. Cabrera Infante é fã de cinema, e o compreende de forma bastante singular, e essa singularidade é expressa em palavras que se transformam em crônicas bem humoradas, por vezes mordazes, que emitem luz sobre a arte que tanto aprecia a luminosidade. No início de 2023, adquiri os três volumes de artigos sobre filmes: Cinema ou sardinha. Em espanhol os volumes concentram-se num só.

Cinema ou sardinha - parte 2: Vias, bem vivas: Volume 2 | Amazon.com.brCabrera Infante tem aquilo que todo escritor deseja ter: maturidade irônica. E é justamente munido dessa ferramenta que ele escreve – parece conversar com o leitor, entre charutos e doses de bourbon – sobre Howard Hawks, Orson Welles, Hitchcock, Vincente Minnelli, sobre seus filmes e como eles conseguiram referenciar uma época e muitos costumes. Sim, o cinema é, claro, a grande personagem do livro, reverenciada por um autor que desde a infância se mostrou cinéfilo apaixonado, febril. O título, aliás, é uma grande brincadeira. Pode-se viver sem sardinha, mas não sem cinema.

As mulheres não estão ausentes: o volume 2, cuja capa ilustra a postagem, é marcado por crônicas que homenageiam Marilyn, Rita Hayworth, Anita Loos, Mae West, Barbara Stanwyck, Gloria Swanson, Ava Gardner. Até Sharon Stone e Melanie Griffith entraram no rol. E homens célebres como William Holden, Orson Welles, Fellini, Chaplin, Cary Grant e James Mason. É uma festa. E tudo isso escrito com a pena infantiana – ou seja, veloz, mordaz, sacana, trocadilhesca e tão literária que causa inveja: ao menos em mim. Vai causar inveja a você, também. Se você que lê aprecia cinema, não pode deixar de ler a trilogia.

Cinema Ou Sardinha - Parte 1 Pompas Fúnebres - SBSE para quem torce o nariz para o cinema americano, há diversão fora do eixo: Guillermo Cabrera Infante escreve sobre Almodóvar, Fritz Lang, Kiarostami, Kurosawa. Escreve sobre grandes diretores e, claro, grandes filmes feitos por eles, sobre filmes B, sobre o faroeste, os filmes em preto e branco e por aí vai. Tudo sob a ótica de um erudito que sabe ser popular – e vice-versa. Li vários livros sobre cinema – da crônica ao romance, passando por biografias e análises fílmicas -, mas nada me divertiu tanto quanto, diante da erudição e do conhecimento de Cabrera Infante, perceber que o cinema sobrevive e para sempre viverá. Vale ler para crer.

 

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Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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