Muhammad, Bruce e Caetano Veloso

Sou fã de boxe. Sempre que possível, assistia aos combates de Eder Jofre pela tevê, quando a nobre arte ainda não era demonizada (com certa razão) pela medicina e pelos puritanos. Claro: também era fã de George Foreman e de Joe Frazier, mas o grande astro desse esporte era Cassius Marcellus Clay. Ou, como exigiu ser chamado após converter-se ao Islã, Muhammad Ali. Li O Rei do Mundo logo que veio a público, traduzido. É ótimo até porque não se concentra no boxe per si, mas no seu engajamento político e religioso. Tudo o que envolveu o astro do boxe em sua jornada espiritual, e de como os wasps viram seu herói virar-lhe as costas. É um ótimo registro, se você aprecia o assunto.

Também sou fã de artes marciais em especial o judô, o qual pratiquei quando adolescente, tendo como sensei o lendário José de Barros. Eram os anos 1970 e o judô, claro, levou-me à coreografada porradaria dos filmes de Bruce Lee e, mais tarde, ao blaxpoitation de Jim Kelly. Nunca li uma biografia de Bruce Lee, mas lerei, porque fã merece que a vida do ídolo seja exposta, principalmente quando sua morte é motivo de teorias da conspiração e conjeturas tão divertidas quanto essenciais ao mito. Os filmes que estrelou tinham enredos sofríveis e a carga dramática que Lee embutia em seus personagens era risível. Quem se importa, todavia? O que valia era a ação! Bruce é, junto a Fred Astaire e Gene Kelly, o maior bailarino do cinema.

Bruce Lee em 'O Voo do Dragão'

Lembro-me da série Kung Fu, cujos episódios estrelados por David Carradine iam ao ar no horário pós-telenovela da Globo, às 21h. Colecionei os números da revista Kung Fu, que vieram ao mundo pela Ebal, a partir de 1973. Assisti ao filme Operação Dragão um pouco mais tarde, e, vingado por conta da classificação indicativa (da época), fui ao cinema incontáveis vezes, para ver Bruce Lee, John Saxon, Jim Kelly e Bolo Yeung. Eram bons aqueles tempos, em que os filmes da artes marciais pareciam mais críveis, embora tão heroicos quanto os de Van Damme e Steven Seagal.

Eis a questão: o que Caetano Veloso, presente no título desta postagem, está fazendo aqui? Eu explico. Em 1977, quando eu ainda não me ligava à MPB, minha querida amiga Izinha née Josemília apresentou-me a canção Um Índio, contida no elepê Bicho. Não conhece? AQUI você ouve a versão original. Foi uma revelação, uma epifania. Na canção, Muhammad Ali e Bruce Lee, rimados com o romântico Peri e os Filhos de Gandhi, constam dos estribilho. É obra-prima. Anos mais tarde, já fã de Caetano e já professor de literatura brasileira, fiz um paralelo entre o compositor baiano e o poeta maranhense Gonçalves Dias. Isso, entretanto, é papo para outro dia.

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Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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