Conversava eu com alguns amigos sobre cinema. Nada técnico: apenas preferências, lembranças, bons e maus momentos em filmes, canastrice de atores e atrizes, diretores competentes etc. Tudo baseado em opiniões que, na maioria das vezes, não precisavam de justificativa. Sim, assim que é bom. Pois na conversa veio a pergunta, direta, a meus ouvidos: qual o melhor filme de Woody Allen? E a pergunta se fez seguir de um desafio ainda maior: dentre tantos, precisaria escolher três – nem menos, nem mais.
Bem, eu escolho, logo de cara, Zelig, filme de 1983. Obra-prima, sem tirar nem pôr. É ousadia demais produzir, no início dos anos 1980, um filme (em formato documental) em preto & branco sobre um homem cuja única característica interessante é ser um camaleão humano – ou seja: ao aproximar-se de alguém, ele passa a se parecer com essa pessoa a quem acompanha. A esposa à época, Mia Farrow, faz uma psicanalista que se apaixona por seu paciente. Comédia? Não é exatamente uma comédia, e não sei bem sei a que gênero pertence. A película, contudo, é ótima, principalmente para se rever.
Outro: Meia-noite em Paris, de 2011. É a homenagem à literatura, ao cinema, à música e à pintura e, claro, àquela tal geração perdida, gente que se refugiou em Paris porque havia espaço para a criação, para o desbunde (da época), para a liberdade. É a conexão absolutamente perfeita entre humor e surrealismo – sem falar, claro, que surrealistas como Buñuel e Dali privavam com Zelda Fitzgerald e seu marido, Cole Porter, e Gertrude Stein. Aliás, a breve conversa entre Gertrude e Picasso é ótima. Quem não apreciaria, sabe-se lá por quê e como, voltar no tempo e contracenar com seus ídolos? Uma beleza de filme.
O terceiro filme: Poucas e boas, de 1999: Woody Allen e o jazz, gênero o qual tanto ama. Sean Penn, sempre excelente, é um músico de jazz (Emmet Ray) cujo passatempo é matar ratos a tiros. Melhor que ele, no instrumento – guitarra -, somente o cigano Django Reinhardt (em cuja presença Emmet sempre desmaia). Engana-se, entretanto, quem acha que seja um filme sobre música. É, de fato, um filme sobre afeto, sobre como o artista lida com as pessoas a quem ama e, mais ainda, como o artista vê o mundo. E de como perde a pessoa amada justamente por ser artista – ou seja: um egoísta por princípio. Vale ver, se não viu. Rever, então, nem se fala.
Deixar de fora Annie Hall, Maridos e Esposas, Manhattan e Interiores é pedir para ser internado. Coisa de hospício mesmo. Vamos em frente, todavia.