Walter Campos de Carvalho escreveu poucos livros. A exemplo de figuras como os norte-americanos J. D. Salinger e Thomas Pynchon, (adiciono o mexicano Juan Rulfo), o autor sempre achou que deveria falar apenas o necessário, e – dizem! – arrependeu-se de alguns textos. Não sei dizer até onde essa informação é segura. Li 4 livros desse autor. Dois deles são obras-primas da anarquia literária: A Lua vem da Ásia e Vaca de Nariz Sutil. Os outros dois, A Chuva Imóvel e O Púcaro Búlgaro são divertidíssimos (principalmente este último), e deveriam ser lidos por quem aprecia boa e originalíssima literatura.
Eis a questão: faltam-me a leitura de 3 obras, a saber: Banda Forra, livro de ensaios, de 1941; Tribo, romance de 1954, e a coletânea de contos O Espantalho Habitado de Pássaros, que nem sei se existe, de fato. Consta que foi publicada em 1965, mas não conheço ninguém que tenha lido, nem que sequer tenha conhecido, folheado etc. Campos de Carvalho renegou Tribo e Banda Forra. Calou-se sobre tais obras como se elas denunciassem um escritor que ele não era, mas que, tenho certeza, moldaram o fenômeno literário que ele se tornou.
Se há um bom autor no insipiente surrealismo brasileiro, essa figura é Campos de Carvalho. É possível garantir isso a partir da leitura das obras que não foram renegadas, e que trazem a marca do absurdo conectado a uma linguagem veloz e quase automática, incisiva, e que parece brotar de um inconsciente em ebulição. Há, também, o elemento cômico – mas aí o papo é outro, e o Surrealismo se desloca para dar lugar ao farsesco, ao deboche desmesurado, ao chiste e aos trocadilhos.
A vontade do autor deve ser respeitada, é evidente. Se ele não quer que os títulos citados venham à tona, que seja feito seu desejo, e nem é necessário que isso seja explicado. Resta ao leitor, principalmente ao leitor que apreciou a leitura dos livros cuja edição e reedição foram permitidas, imaginar a razão dessa lacuna. No fundo, tal razão não importa muito. A lacuna, sim. Campos de Carvalho é daqueles autores cujas linhas deveriam ser expostas em toda a sua integridade.
AQUI um ótimo ensaio sobre a obra do autor.