Ganhei de minha sogra, boa professora aposentada de literatura e, portanto, apreciadora das belles lettres, os três livros que compõem os diálogos entre Jorge Luis Borges, o enormíssimo ensaísta, contista e poeta argentino, e o jornalista (e também afeito à poesia) Oswaldo Ferrari. Leitura fluente, para quem já é iniciado nas obsessões borgeanas – tempo, labirintos, escrita antiga, literatura inglesa, Buenos Aires, mitologia escandinava, filosofia, o ato de escrever – e para aquele brasileiro curioso e ignorante que não entende como um cegueta manco (e argentino) pode ser um ícone literário de todos os tempos.
Imagine um programa de rádio em que se fale de literatura, de filosofia, de história, de sonhos, de lendas. Um bate-papo entre dois homens cujo interesse intelectual transgride as preferências superficiais da maioria dos viventes. Pois é. Esses três livros que me foram presenteados pela sogra tratam justamente disso. São conversas que foram, mais tarde, transcritas para o jornal Tiempo Argentino, um espaço dedicado a quem se interessa por aquilo que a maioria dos brasileiros despreza: a leitura. Os argentinos, por sua vez, levam a coisa a sério.
Estou terminando o volume cuja capa ilustra esta postagem. Altamente recomendável pela beleza linear da conversa, pela versatilidade dos conteúdos e, principalmente, porque figuras como Edgar Alan Poe, Spinoza, Virgílio, Shakespeare, Bertrand Russel, Swedemborg, Francisco de Quevedo e G. K. Chesterton planarem como aves rarae no céu pintado pelo extraordinário argentino. É ler para crer – e se regozijar. Sim, o prazer dessa específica leitura é potencializado. Aposte nisso.
Jorge L. Borges foi um erudito – e dos bons. Um bom erudito é aquele que traduz o saber grandioso, estimulando quem o lê. Não rechaça o ignorante; ao contrário: consegue seduzi-lo a ponto de torná-lo fiel, mas crítico. Os diálogos, para Borges, são a grande descoberta intelectual, legado dos gregos, a partir da amizade entre Sócrates e Platão, o assunto do título. Daí para Holmes e Watson, ou para Sancho e Quixote, é um pulo, um salto olímpico cuja distância não se mede. Conversar, sei disso, é descobrir.