George Martin, produtor e orquestrador que gozou da intimidade dos Beatles, dizia aos quatro cantos que Abbey Road, disco de 1969, era a obra-prima do quarteto que revolucionou a música pop. Quase sempre se usa a expressão pop com certo desprezo hipócrita, como se o termo impusesse à música – como um todo, melodia e texto – depreciações inevitáveis. Besteira. Abbey Road, gozando sua ideologia pop-rock, é um disco de primeira, dos melhores já feitos e, no meu caso, concordo com George Martin: é o melhor dos Beatles. Aliás, há umas poucas postagens, afirmei que é um dos melhores discos de rock que conheço.
Sei que há quem afirme que Sgt. Pepper’s é melhor. É avaliação subjetiva, claro, assim como a minha e de George, mas, mesmo as subjetividades são (ou devem ser) justificadas. Primeiro: Harrison mostra os dedos (e a voz) afiados em dois temas que se tornaram clássicos: Something e Here Comes the Sun estão na ponta da língua de qualquer cinquentão de bom-gosto. Eu, por exemplo. A musicalidade de Something é algo fora do comum – e repare que os recursos para se chegar a ela são simples, quase primários. Mas tente fazer para ver se você consegue.
E por falar em riqueza melódica, que tal ouvir Golden Slumbers, Oh! Darling, Come Together e o tema do serial killer Maxwell’s Silver Hammer? Quer uma execução progressiva? Há também. Experimente I Want You (She’s So Heavy), mas não exija dos rapazes que eles antecipem o virtuosismo de um Robert Fripp ou as sinuosas reviravoltas de Greg Lake. O negócio deles era outro: entreter com arte. Ou seja: preocupando-se com a própria produção e um olho cravado na aceitação popular. Fizeram, sim, a melhor música popular.
Eis os rapazes após a foto famosa, em que marcham na faixa de pedestre – em Londres. Mas aí você quer saber por que escolhi justamente esse disco para uma postagem. Simples. Abbey Road veio ao mundo em 26 de setembro de 1969. Claro, claro. Alguma coisa tinha de fazer dessa quarta-feira, o dia mais insosso da semana, uma data especial.